Terras de Trás-os-Montes (Fot. de Prado Gilbert)
O nome deste blogue, Um Reino Maravilhoso, tirei-o de um livro do escritor português Miguel Torga, intitulado Portugal. Ele nasceu numa aldeia chamada São Martinho de Anta, na região de Trás-os-Montes, no norte do país, e um dos capítulos desse livro é precisamente "Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes)", de que dou em baixo o primeiro parágrafo. A fotografia por trás do título do blogue é Trás-os-Montes, uma terra dura onde a vida tem sido sempre difícil pelas suas condições naturais e pelo seu isolamento, mas uma terra belíssima, à qual Torga rende homenagem nesse capítulo.
Mas eu queria que esse "Reino maravilhoso" fosse, aliás, para os alunos de Bachillerato desta Escola, o reino das palavras em português, sobretudo prosa, mas também verso; sobretudo literatura portuguesa, mas também brasileira, ou angolana, ou moçambicana, porque não? Tudo literatura escrita em português. Outra maneira de ver o mundo. E mais: teremos também excertos de revistas, de jornais e de blogues.
E assim é que começa “Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes)”:
Vou falar-lhes de um reino maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois , não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não existe como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecíveis. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
–Para cá do Marão, mandam os que cá estão!..
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
–Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
–Para cá do Marão, mandam os que cá estão!..
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
–Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.