A luta dos pais contra o insucesso escolar deve começar hoje
A valorização do esforço e da ética do trabalho deve começar no primeiro dia de aulas. Hoje é um bom dia para os pais folhearem os manuais com os filhos.
Tendo em conta o calendário oficial, no fim do dia de hoje todas as escolas do país terão aberto portas. Para as famílias, é um marco - cumprida a lufa-lufa da compra do material escolar e ultrapassada a discussão sobre o custo dos manuais, os pais entregam os filhos na escola e tendem a respirar de alívio. Acontece que isto é um erro, avisam os especialistas. "O sucesso escolar não acontece no fim do ano lectivo, começa agora e, neste processo, os pais não são dispensáveis", diz Dulce Gonçalves, investigadora em Psicologia da Educação.
"Gostaste da escola? E dos professores? Os colegas foram simpáticos? Brincaste no recreio? Com quem?" - ouvirão hoje milhares de crianças. "Mesmos os pais mais atentos tendem a preocupar-se apenas, nesta fase, com a adaptação social da criança, e a adiar, "lá mais para a frente", a questão do sucesso ou do insucesso escolar", tem verificado João Lopes, psicólogo da Educação e professor na Universidade do Minho. Não que desvalorize a estabilidade emocional das crianças. A questão, frisa, "é que os pais não se podem demitir de acompanhar a componente académica".
Mais do que isso, reforça Dulce Gonçalves, da Universidade de Lisboa, é preciso que "actuem já". "Por uma razão simples", contribui João Lopes: "Se os problemas forem detectados agora, ainda sobram dez meses para os resolver; de contrário, não só se perde um tempo precioso, como se permite que as dificuldades cresçam até se tornar quase impossível lidar com elas ."
Aos pais pede-se, precisamente, o quê? Pedro Sales Rosário, também professor na Universidade do Minho, responsável pelo Grupo Universitário de Investigação em Auto-regulação, responde, provocador: "Pede-se aos pais que se preocupam com os filhos que façam o favor de se ocupar deles, também; que assumam a tarefa de prevenir o insucesso e de promover o sucesso, embora eu reconheça que é infinitamente mais fácil deixar andar e depois, no fim do ano, culpar os professores e o "sistema"."
Dulce Gonçalves dá conselhos práticos. Exemplos: "Folhear os manuais escolares com os filhos, ajudá-los a recordar conhecimentos prévios essenciais às novas aprendizagens e garantir que os treinam, se estiverem esquecidos"; mas também "premiar o esforço, promovendo uma ética do trabalho", "valorizar a escola e os professores" e até "garantir que se alimentam bem e que dormem o número de horas adequado".
Naturalmente, há situações que exigem medidas mais drásticas, sublinham todos. E, neste campo, os psicólogos de educação não concedem qualquer período de tolerância aos pais cujos filhos transitaram de ano com dificuldades. "Para esses, hoje já não é cedo", avisa Dulce Gonçalves. Os pais devem ir à escola, pedir apoio pedagógico; e, eventualmente, acrescenta, "procurar apoio externo, explicadores que possam dedicar mais tempo às crianças e que sejam capazes de identificar lacunas e de as colmatar".
Os alertas dos alunos
"Actuar já" pode ser determinante no corte de "um círculo vicioso com consequências muito graves", alertam os especialistas. "As pessoas consideram natural que problemas de comportamento se reflictam nos resultados escolares e não calculam quantas vezes acontece o contrário; quantas crianças se tornam problemáticas em reacção ao sofrimento que lhes causa a noção de incompetência no domínio académico", diz João Lopes.
O investigador insiste que este é um aspecto subvalorizado: "Os primeiros a detectar as fragilidades são os próprios alunos, por comparação com os colegas. E imaginem a violência que é passar horas e horas, todos os dias, num sítio onde tudo lhes diz que estão a falhar." Normalmente, os estudantes reagem a esta "agressão" a dois tempos, adianta Sales Rosário: "Com tristeza, primeiro; e, depois, com uma espécie de desligamento: "Perdido por cem, perdido por mil.""
Graça Barbosa Ribeiro (Público, 13-Setembro-2010)
"Gostaste da escola? E dos professores? Os colegas foram simpáticos? Brincaste no recreio? Com quem?" - ouvirão hoje milhares de crianças. "Mesmos os pais mais atentos tendem a preocupar-se apenas, nesta fase, com a adaptação social da criança, e a adiar, "lá mais para a frente", a questão do sucesso ou do insucesso escolar", tem verificado João Lopes, psicólogo da Educação e professor na Universidade do Minho. Não que desvalorize a estabilidade emocional das crianças. A questão, frisa, "é que os pais não se podem demitir de acompanhar a componente académica".
Mais do que isso, reforça Dulce Gonçalves, da Universidade de Lisboa, é preciso que "actuem já". "Por uma razão simples", contribui João Lopes: "Se os problemas forem detectados agora, ainda sobram dez meses para os resolver; de contrário, não só se perde um tempo precioso, como se permite que as dificuldades cresçam até se tornar quase impossível lidar com elas ."
Aos pais pede-se, precisamente, o quê? Pedro Sales Rosário, também professor na Universidade do Minho, responsável pelo Grupo Universitário de Investigação em Auto-regulação, responde, provocador: "Pede-se aos pais que se preocupam com os filhos que façam o favor de se ocupar deles, também; que assumam a tarefa de prevenir o insucesso e de promover o sucesso, embora eu reconheça que é infinitamente mais fácil deixar andar e depois, no fim do ano, culpar os professores e o "sistema"."
Dulce Gonçalves dá conselhos práticos. Exemplos: "Folhear os manuais escolares com os filhos, ajudá-los a recordar conhecimentos prévios essenciais às novas aprendizagens e garantir que os treinam, se estiverem esquecidos"; mas também "premiar o esforço, promovendo uma ética do trabalho", "valorizar a escola e os professores" e até "garantir que se alimentam bem e que dormem o número de horas adequado".
Naturalmente, há situações que exigem medidas mais drásticas, sublinham todos. E, neste campo, os psicólogos de educação não concedem qualquer período de tolerância aos pais cujos filhos transitaram de ano com dificuldades. "Para esses, hoje já não é cedo", avisa Dulce Gonçalves. Os pais devem ir à escola, pedir apoio pedagógico; e, eventualmente, acrescenta, "procurar apoio externo, explicadores que possam dedicar mais tempo às crianças e que sejam capazes de identificar lacunas e de as colmatar".
Os alertas dos alunos
"Actuar já" pode ser determinante no corte de "um círculo vicioso com consequências muito graves", alertam os especialistas. "As pessoas consideram natural que problemas de comportamento se reflictam nos resultados escolares e não calculam quantas vezes acontece o contrário; quantas crianças se tornam problemáticas em reacção ao sofrimento que lhes causa a noção de incompetência no domínio académico", diz João Lopes.
O investigador insiste que este é um aspecto subvalorizado: "Os primeiros a detectar as fragilidades são os próprios alunos, por comparação com os colegas. E imaginem a violência que é passar horas e horas, todos os dias, num sítio onde tudo lhes diz que estão a falhar." Normalmente, os estudantes reagem a esta "agressão" a dois tempos, adianta Sales Rosário: "Com tristeza, primeiro; e, depois, com uma espécie de desligamento: "Perdido por cem, perdido por mil.""
Graça Barbosa Ribeiro (Público, 13-Setembro-2010)