segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Cabelo branco é... saudade



Cabelo branco é... saudade

Era uma vez, numa tarde de Verão, daquelas que só existem mesmo em terras mouriscas bem a Sul... e onde a minha mais que amiga Dani descobriu o meu 1.º cabelo branco.

Também uma vez numa aula de teatro o Professor Roberto Merino pediu-me que simulasse o aparecimento da minha 1.ª ruga... tinha eu nessa altura 18 anos e o o Professor disse-me que havia feito um retrato bastante realista. Ora, a descoberta do 1.º cabelo branco deveria dar resultado semelhante ao já fingido... nada disso. A sensação que tive não foi boa. Mas depois também não foi má. E depois foi nada. O dia-a-dia. O quotidiano. A coisa simples que acontece e pronto... como tantas outras.

Porém, fez-me pensar no tal fado : Amar demais, é doidice / Amar de menos, maldade / Rosto enrugado, é velhice / Cabelo branco é saudade... E saudade, disse-me a minha avó, um dia, quando ainda não tinha tantas saudades dela: é um fiozinho apertado ao coração que às vezes alguém puxa e dói pouquinho...

O meu 1.º cabelo branco só me diz que esse fiozinho já foi puxado muitas vezes. Então eu fecho os olhos, sinto o cheiro ... e dói menos!

Mafas



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dia de anos (João de Deus)




DIA DE ANOS

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!

Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!

João de Deus


João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de Março de 1830 — Lisboa, 11 de Janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens.




A Cartilha Maternal é uma obra de natureza pedagógica, escrita pelo poeta e pedagogo João de Deus e publicada em 1876, que se destinava a servir de base a um método de ensino da leitura às crianças. A Cartilha Maternal é uma das obras mais vezes reimpressas em Portugal, tendo sido extensivamente usada nas escolas portuguesas por quase meio século, ainda mantendo alguns seguidores.