Também morreu um 30 de novembro, no ano 1995, Fernando Assis Pacheco. Do seu poema “Monsenhor, passeando de bicicleta”, em Respiração Assistida (Assírio & Alvim, 2003), estes dois versos:
ó lameiro do coração
como endureces!
Também morreu um 30 de novembro, no ano 1995, Fernando Assis Pacheco. Do seu poema “Monsenhor, passeando de bicicleta”, em Respiração Assistida (Assírio & Alvim, 2003), estes dois versos:
ó lameiro do coração
como endureces!
Estão aqui as pobres coisas: cestas
esfiapadas, botas carcomidas, bilhas
arrebentadas, abas corroídas,
com seus olhos virados para os que
as deixaram sozinhas, desprezadas,
esquecidas com outras coisas, sejam:
búzios, conchas, madeiras de naufrágio,
penas de ave e penas de caneta,
e as outras pobres coisas, pobres sons,
coitos findos, engulhos, dramas tristes,
repetidos, monótonos, exaustos,
visitados tão só pelo abandono,
tão só pela fadiga em que essas ditas
coisas goradas e órfãs se desgastam.
Jorge de Lima
(Fotografia de Julián del Nogal)
MOMENTO NUM CAFÉ
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto longo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
Esaudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
Manuel Bandeira
Estrela da manhã (1936)
(Fotografia de Ivaldo Cavalcante)