segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (Luís de Camões)




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões 


1524 ou 1525: Datas prováveis do nascimento de Luís Vaz de Camões, talvez em Lisboa - 1579 ou 1580: Morre de peste, em Lisboa.



Camões com outro sotaque, igualmente belo





quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Imaginemos, por absurdo, que os dicionários desapareciam." (Gonçalo M. Tavares)



Uma palavra que durante décadas não seja utilizada na rua ou nos livros e permaneça apenas no dicionário tem um destino à vista: ser palavra-defunta. O dicionário pode ser visto, assim, como uma antecâmara da morte. Como se algumas palavras estivessem ali paradinhas, quietas, mudas (no sentido literal e metafórico) porque não falam, nin...guém fala por elas e ninguém as fala – com se estivessem, então, ali em fila, em linha, à espera do seu próprio velório. Ou podemos então mudar radicalmente de ponto de vista: o dicionário com os seus milhares e milhares de palavras, pode ser entendido como um depósito contra o esquecimento, um enorme arquivo. Eis, pois, um outro nome possível para o dicionário: instrumento para evitar o esquecimento. Imaginemos, por absurdo, que os dicionários desapareciam. Que uma qualquer ordem política determinava a sua destruição. Pois bem, seria uma matança. Em poucas décadas morreriam palavras como tordos. E se, no limite, não existisse qualquer livro, e ficássemos apenas […] com a linguagem das conversas rápidas, então o vocabulário ficaria reduzido ao mais essencial e mínimo: sim, não, comida, bebida, etc. Poderíamos assim, com a linguagem, expressar as necessidades do organismo mas certamente não as do espírito. Abrir o dicionário, pois, como ato de resistência e salvação: não vou ficar só com as palavras que ouço ou leio nos livros comuns – eis o que se poderia dizer. Abrimos ao acaso na página 310, e depois na página 315, sempre com a firme determinação de salvar duas ou três palavras de cada página. Como aquele que salva quem se está a afogar. E não é por acaso, aliás, que muitas das mitologias remetem o esquecimento para a imagem do rio. Uma água onde as coisas se afundam, deixam de ser vistas à superfície, desaparecem da vista. A passagem do rio utilizada também como metáfora do tempo que passa e leva e afunda as coisas que ainda há momentos estavam à nossa frente, bem vivas. Salvar palavras da água que engole e faz esquecer as coisas, eis o que é, em parte, abrir um dicionário. Dotados, então, de um espírito de nadador-salvador, abrimos ao acaso o dicionário e trazemos palavras mais ou menos raras – umas que já nadam há muito debaixo de água, com dificuldades, outras, mais resistentes, mais visíveis, mas ainda estimulantes (e algumas bem conhecidas dos nossos clássicos). Passemos pela letra M. Ao acaso e rapidamente. Morato – adjetivo que significa bem organizado. Maçaruco – (regionalismo) indivíduo mal trajado. Manajeiro – aquele que dirige o trabalho das ceifas os outros. Metuendo – que mete medo; terrível; medonho. E tropeçamos depois em palavras de significado popular e óbvio, mas bem divertido: Mata-sãos: médico incompetente; curandeiro. Eis, pois, a partir daqui, uma frase possível que quase poderíamos introduzir numa conversa de café (uma frase em letra M): - O manajeiro metuendo, maçaruco, aproximou-se do morato espaço do mata-sãos e disse: por favor, aqui não, vá curar mais além.

 Gonçalo M Tavares

(Lido em Blog à portuguesa)




segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Centenas de milhares na rua contra a troika...


Uma notícia lida no jornal Público de ontem sobre algo que aconteceu em Portugal no sábado passado.

Centenas de milhares na rua contra a troika e o Governo num dos maiores protestos de sempre

As manifestações nas cidades em que houve protestos apontam para que centenas de milhares se tenham manifestado contra a troika e as medidas do Governo.


Os manifestantes não foram contabilizados, mas as manifestações nas cerca de 40 cidades em que houve protestos apontam para que centenas de milhares se tenham manifestado este sábado contra a troika e as medidas do Governo


O dia de protestos visto pelos jornalistas do PÚBLICO.

22h00, Lisboa O ambiente acalma na manifestação frente à Assembleia da República. Alguns manifestantes começam a dispersar. Chega ao fim uma das maiores manifestações de protesto realizadas em Portugal desde o 25 de Abril de 1974. Os portugueses saíram à rua para dizer “basta” às medidas da troika e do Governo em 40 cidades do país. Luciano Alvarez

Lisboa, 21h25 Manifestantes lançam várias bombas de fumo contra a polícia frente à Assembleia da República. O ambiente aquece. PÚBLICO

21h15, Lisboa Protestos intensificam-se frente à Assembleia da República. Manifestantes rebentaram uma bomba de fumo. Luciano Alvarez

21h13, FunchalOs promotores da manifestação anti-troika na Madeira não decidiram se vão repetir a iniciativa a 22 de Setembro. No final do protesto que concentrou cerca de cinco mil madeirenses na Praça do Município, depois de cantarem o Hino Nacional e proclamarem vivas a Portugal, os manifestantes reuniram-se numa espécie de assembleia popular que foi consultada sobre a realização ou não de nova manifestação no próximo sábado. Face à dificuldade de tomar uma decisão no local, Duarte Rodrigues, um dos promotores da mobilização de hoje, anunciou aos presentes que a decisão será tomada oportunamente, após ouvir a opinião das pessoas, nomeadamente através das redes sociais, e conhecer o que vier a ser acordado relativamente a outras manifestações noutras cidades do país. Tolentino de Nóbrega

20h47, Lisboa Largo fronteiro à Assembleia da República já está completamente cheio de manifestantes. Luciano Alvarez

20h26, Lisboa Houve breves desacatos frente à Assembleia da República. As grades de contenção dos manifestantes chegaram a ser derrubadas, mas foram entretanto repostas. PÚBLICO

20h16, Funchal Milhares de madeirenses manifestaram-se este sábado na baixa do Funchal. Os manifestantes entoaram palavras de ordem contra as medidas anunciadas pelo Governo. “Abaixo a mamadeira, Jardim para a rua” e “A luta continua, Alberto João para a rua”, protestaram no final da concentração, no Largo do Município. “Troikem o Passos”, “A incompetência tem limites”, “Presidente da Republica procura-se, ”Eles roubam e o povo é quem paga”,” Passos ladrão, o vosso lugar é na prisão"e "Quem semeia miséria colhe fúria", foram algumas das inscrições em cartazes e faixas exibidas no protesto. Tolentino de Nóbrega

19h56, Lisboa Alguns dos manifestantes que participaram na marcha alfacinha, que acabou na Praça de Espanha, rumaram para a praça frontal à Assembleia da República, onde vão continuar os protestos. Luciano Alvarez

19h54, Portimão Cerca de um milhar de pessoas manifestaram-se em Portimão contra as medidas de austeridade impostas pelo Governo e pediram a demissão do executivo de coligação PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho. Os manifestantes concentraram-se às 16h, em frente da Câmara de Portimão, e desfilaram depois pelas ruas da baixa da cidade até à marginal, onde quem quis tomou a palavra para dizer o que entendia e protestar contra as medidas de austeridade, como as alterações à Taxa Social Única, que disseram estar a agravar o nível de vida dos portugueses. Com palavras de ordem como “Passos ladrão, não vales um tostão” ou “Passos atenção, não queremos exploração” e cartazes com frases como “Troika que os pariu”, os manifestantes deram voz ao seu desagrado pelo novo pacote de medidas de austeridade anunciadas e contra a situação difícil que o Algarve e o país atravessa em termos de desemprego. Lusa

Continua aqui 

(Fonte: jornal Público, 16 de setembro de 2012)






Uma citação de Agostinho da Silva



É melhor não fazermos muitos planos para a vida para não baralharmos os planos que a vida tenha para nós. 

Agostinho da Silva (1906-1994), filósofo, poeta e ensaísta português




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Ano do Brasil em Portugal



Brasil em Portugal e vice-versa.



Publicado hoje, dia 7 de setembro, no blogue De Rerum Natura, que a partir de agora fica na coluna ao lado na lista dos nossos blogues.