quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Perdeu-se a arte de tirar uma italiana (Luís Pedro Nunes)




Perdeu-se a arte de tirar uma italiana

Luís Pedro Nunes (www.expresso.pt)
0:00 Quarta feira, 19 de janeiro de 2011

Mas como é que se faz um chá decente? Eis uma questão que tem vindo a ser debatida nos últimos dias em alguns dos grandes jornais anglo-saxónicos e quase nos convencemos ser tema de grande complexidade. Foram repescar um texto de Yoko Ono sobre John Lennon e logo a Christopher Hitchens sentado nos ombros de George Orwell não resistiu a acrescentar... nada. Que chalaceiros. Resumo: primeiro põe-se a saqueta na chávena e depois é que se verte a água a ferver. The End. Ora que eu gostava de saber é porque é que já não consigo pedir uma italiana em Portugal sem me irritar. Sim, é mais ou menos um café curto para os do Porto que fingem não saber o que é. Como é que se perdeu a 'ideia de italiana bem tirada'? E como é que ninguém se rala com tal coisa?

A verdade é não há como os bifes para promover a sua inglesidade através de água fervida com plantas aprisionadas numa saqueta vindas de ex-colónias. Mas a 'arte' de fazer chá pode ser testemunhada ao vivo por vários pontos do Oriente e sem saqueta. Aí é que é de malabarista. Curioso é tentar perceber os porquês da não existência do culto do café em Inglaterra. Os salões de café eram também prostíbulos e quando foram encerrados a beberagem ficou com a má reputação. E há quem diga que fazer café era algo de muito complexo para um inglês, dado que exigia torrar, moer, coar... oh dear... ficaram-se pelo chá que é apenas água fervida. Mas vamos às italianas.

Ainda há pouco tempo a vida era simples. Havia a unidade - a bica, e poucas variações: bica cheia, carioca e italiana. Umas velhas chatas pediam bica escaldada ou em chávena fria e para os tipos de barba rija bica com cheirinho (uísque ou bagaço). O termo bica (café) tem os seu regionalismos - sim, o cimbalino - mas deixem lá isso agora. Como é que agora não se acerta numa italiana?

Há dias vi no Facebook uma indignação sobre este tema: uma italiana que só sujava o fundilho da chávena. E até tinha uma foto a comprovar: uma rodela castanha de espuma castanha-lama algures no fundo.

Tende-se logo a culpar a chegada dos Starbucks mas não é nada disso. Antes já tinham chegado os descafeinados, os abatanados (seja lá o que isso for) mas só as italianas foram descuradas. A culpa é mesmo nossa, dos consumidores. E dos donos dos estabelecimentos. Entra-se num café, aproximamo-nos do balcão de uma pastelaria tradicional e ao fim de dois minutos já percebemos a dinâmica social do lado de lá: quem está chateado com quem, quem é o ostracizado, quem é a chefona, eles representam para os clientes a sua sitcom de pastelaria. Desculpe mas é muito café para uma italiana. "Isto sempre foi uma italiana!", respondem em desafio e vão à máquina, despejam um pouco e devolvem arrogantes (na cabeça deles ouvem risos e aplausos).

Mas a questão essencial foi a grande rotatividade de funcionários nas últimas décadas - muitos deles emigrantes acabados de chegar. Aconteceu-me muitas vezes pedir uma italiana e não saber do que se tratava ou de me dar um pingo de café no fundo, reclamar e responder-me que tinha carregado no botão certo da máquina portanto tinha que ser aquilo.

Afinal o que é uma italiana? Nem eu sei já... porque já nem peço para não me passar. Os portugueses acabaram rendidos às mariquices dos cafés dos Clooneys e fazem filas à espera das cápsulas! Filas para comprar cápsulas de café... Mas basta pedir um café que não tenha mistura feita em Portugal (com o blend de cafés ao nosso gosto) para se perceber que não sai igual. Uma italiana não é um 'expresso'. Não é um 'levanta mortos' mas é meia chávena com espuma grossa e persistente, é quase morna mas não é fria, é forte mas não é desagradável, é potente mas não agreste. Ó senhor Nabeiro não lhe fazia mal nenhum pôr um thinktank a refletir sobre este assunto e mandar fazer um risquinho no lado de dentro das chávenas no ponto certo onde deve ser a italiana. Essa comenda exige dever social para com a comunidade. Obrigado.


Luís Pedro Nunes

(Retirado do Expresso)



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O cercado (Ana Paula Tavares)




O CERCADO

De que cor era o meu cinto de missangas, mãe feito pelas tuas mãos e fios do teu cabelo cortado na lua cheia guardado do cacimbo no cesto trançado das coisas da avó Onde está a panela do provérbio, mãe a das três pernas e asa partida que me deste antes das chuvas grandes no dia do noivado De que cor era a minha voz, mãe quando anunciava a manhã junto à cascata e descia devagarinho pelos dias Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera p'ra lá do cercado (Dizes-me coisas amargas como os frutos)

Ana Paula Tavares

(Fonte)


Ana Paula Tavares (Lubango, 1952), é uma poeta angolana.


NB. As mulheres são poetisas ou poetas? Ver aqui no Ciberdúvidas. Fica claro que palavra preferimos em Um reino maravilhoso.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? (António Lobo Antunes)



Estou sentada não no carro com o meu marido, sozinha num dos degraus que conduzem à praia do estacionamento frente ao mar, a ver as luzes dos barcos. Não ficou bem, recomeça. Estou sentada não no carro com o meu marido, sozinha num dos degraus que conduzem à praia do estacionamento frente ao mar, sem ver as luzes dos barcos. Outra vez, corrigindo a partir de frente ao mar. Estou sentada não no carro com o meu marido, sozinha num dos degraus que conduzem à praia do estacionamento frente ao mar, mais a ouvir que olhando e não são as ondas que oiço, é o que mora no interior das ondas e as….
Haverá noite para este dia digam-me, uma altura em que deixo de distinguir o salgueiro e depois do salgueiro a janela, os móveis desaparecem porque não acendemos a luz, ficam as pegas de metal a brilhar um momento, um frémito nas portas que ninguém gira, os meus irmãos procurando-se e eu em busca da saída dado que principiaram as dores e não acho o caminho da rua, apercebo-me do alpendre onde a lanterna baloiça na corrente, ao regressar ao baldio via-a na esquina e acalmava, estou a chegar, estou em casa, não me fazem mal já, o quintal fechava-se- -me sobre o corpo e escondia-me, nenhuma cólica, nenhum suor, a paz e com a paz a indecisão da madrugada no peitoril
- Nasço não nasço?
a desistir, a pensar melhor e a mostrar um esboço de trepadeiras, que parentes no velório amontoando guarda-chuvas no pote enquanto o meu irmão Francisco modifica os livros das contas, não apenas guarda-chuvas, sobretudos que escorrem turvas lágrimas lentas, se calhar com dinheiro nos bolsos
(oxalá que dinheiro nos bolsos)

António Lobo Antunes


 Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?  (2009) - romance.



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A estética do frio (Vitor Ramil)

Debondan's Blog


A ESTÉTICA DO FRIO


JUNHO

Esperei a tarde toda por uma tempestade de vento vinda de Porto Alegre. Anoiteceu. A chuva fina voltou a cair e a parar de cair sobre Satolep. A umidade faz as tijoletas e os livros suarem; mofa os discos, amolece e empena as capas dos livros. É junho. Vou até a janela; limpo o vidro e olho para a rua. As pedras regulares do calçamento estão acesas sob a luz dos postes, onde primeiro se vê a neblina densa que, chegando devagar, descerá até o chão e transformará esta cidade planejada numa cidade infinita. Nada nem ninguém acha Satolep à noite nestas condições. A tempestade de vento não virá. Volto para a escrivaninha e me sento. Fico olhando a foto de Edgar Allan Poe, mas não posso vê-lo.


OUTRO JUNHO

Estou em outro junho. Estou no meu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro, de calção e chinelos, assistindo ao Jornal Nacional na TV. Assisto uma matéria sobre uma festa popular na Bahia. As imagens: um trio elétrico sobre um caminhão arrastando milhares de pessoas seminuas, pulando, suando, bebendo e cantando sob um céu furioso. Não consigo me imaginar atrás daquele trio elétrico. Não consigo me sentir próximo do espírito daquela festa, embora esteja igualmente seminú e com calor e a notícia seja apresentada num tom de absoluta normalidade, como se aquilo fizesse parte do meu dia-a-dia. Assisto a seguir uma matéria sobre a chegada do frio no sul. Vejo o Rio Grande do Sul. Vejo os campos cobertos pela geada na luz branca da manhã, vejo crianças escrevendo com o dedo nos vidros dos carros, vejo homens de pala andando de bicicleta, vejo águas congeladas, vejo gente esfregando as mãos, gente de nariz vermelho, vejo a espectativa de neve na serra, vejo o chimarrão fumegando. Seminu e com calor reconheço imediatamente aquele universo como meu. Mas as imagens são apresentadas num tom de anormalidade, de curiosidade, de quase incredulidade, como se estivessem chegando de outro país -fala-se em "clima europeu"-, o que faz com que eu me sinta estranhamente isolado, mais do que fisicamente distante. Tenho a incômoda sensação de estar no exílio e ver, ao mesmo tempo, o Rio Grande do Sul de perto, por dentro e além das imagens. Percebo então o quanto me sinto separado do Brasil.

Mais que isso, percebo o quanto o gaúcho se sente e o quanto realmente está separado o Brasil. Constato que o obscuro sentimento que nutrimos de não ser ou não querer ser brasileiros tem alcance muito maior que o de mera curiosidade histórica ou de motivos de piadas entre nós. E não preciso avançar até os casos isolados em que este é um assunto ideológico. Só o fato de um sentimento estar assim latente no espírito do gaúcho já é o suficiente para que se estabeleça separação e distância. Acreditar não ser ou não querer ser brasileiro e ao mesmo tempo saber que, mais do que fisicamente ligado ao Brasil, ele é irreversivelmente brasileiro – porque no fundo sabe que esta separação é impossível –, deixa o gaúcho num misto de frustração e impotência que o leva, inevitavelmente, a ter que administrar um sentimento de inferioridade. Uma simples manobra de compensação – uma manobra de sobrevivência – basta para que este sentimento de inferioridade transforme-se em sentimento de superioridade. E pronto. O gaúcho se sente superior ao brasileiro. Separação e distância.

O afastamento – ou inconsciente ou ideológico – do Rio Grande do Sul, torna-o o lugar do Brasil que mais facilmente pode ser definido em duas ou três idéias redutoras, enquanto suas sutilezas de estilo parecem insondáveis.

O gaúcho acaba tendo uma visão caricata de si próprio, a partir da visão superficial que o Brasil tem dele e que ele, como brasileiro, compartilha e assume. O deslocado gaúcho tende sempre a encarnar a personagem "gaúcho" quando se comunica com o Brasil. Do outro lado, os brasileiros tendem sempre a tratar o gaúcho como uma personagem. Numa visão geral, digamos a partir do centro do País, qualquer povo em qualquer região tem sempre suas peculiaridades transformadas em clichês, mas aparece antes de tudo como brasileiro. O gaúcho parece ter antes de tudo seus clichês, depois ser brasileiro. O Brasil o vê lá longe, isolado, e só pode enxergar o que nele é gritante, só as diferenças que saltam aos olhos. E o gaúcho faz que sim.

Assistindo ao Jornal Nacional me dei conta de que acima dos clichês comumente usados para nos definir, acima de toda e qualquer idéia redutora – que representam sempre pequenos recortes, fragmentos da nossa realidade –; que acima também das nossas sutilezas de estilo, estava a diferença fundamental entre o Sul e o resto do Brasil – como símbolo não redutor, primeiro e inquestionável, abrangendo todos os outros –: o frio. Vi que o Rio Grande do Sul simbolizava o frio no Brasil – a chegada do frio no Sul, mesmo com aquele ar "acredite se quiser", está anualmente na pauta da mídia nacional. E me dei conta de que o frio simbolizava o Rio Grande do Sul. Passei a ver o frio como metáfora amplamente definidora do gaúcho.

Esta idéia foi-se enchendo de sentido na medida em que, morando no Rio de Janeiro e viajando constantemente pelo Brasil, passei a sentir o clima tropical – a regularidade de um clima de mudanças tão discretas entre as estações; o calor; a presença constante e vital do sol, do mar e dos rios – como um grande pano de fundo onde se repetiam certas características que pareciam unificar o modo de ser dos brasileiros em sua diversidade. Deparei-me em muitos lugares – e lugares distantes entre si – com um mundo de valores, de hábitos, de gostos e anseios compartilhados que para mim não tinham a mesma significação. Mais objetivamente, vivenciei a expansividade, o excesso, o emocional, o gosto pelas ruas, pela diversão, pela alegria, pelo culto ao corpo, pela dança, pelo ritmo, pelo colorido, pela espontaneidade, pelo caos, pelo múltiplo, pelo variado, pelo eclético, etc. Vivenciei tudo isso e muito mais, sempre sob aquele amarelo forte, aquele quase tom laranja da luz do dia. Foi quando comecei a entender melhor o esforço dos românticos, a atitude dos modernistas, a postura dos tropicalistas. E foi quando não entendi e não aceitei a nossa distância "fria". Eu confirmara que a riqueza cultural do Brasil residia na sua diversidade e, claro, o Rio Grande do Sul já tinha nisso a sua contribuição. E depois, ao encontrar para cada característica comum dos "brasileiros" uma contrapartida na minha maneira de ser, nos meus hábitos de "homem que veio do frio", me perguntei como era possível que se visse nisso um sinal de incompatibilidade e não o sinal de que uma estreita colaboração entre os dois "estilos" abriria uma perspectiva humana e criativa infinitamente rica de possibilidades.

Até quando essa dieta de brasilidade que nós gaúchos nos impomos? Aonde isso nos levará? E até quando essa dieta gaúcha que impomos ao Brasil, reduzindo-nos numa estreita e auto-indulgente visão caricata de nós mesmos e do nosso mundo? Por que uma comunicação natural e direta com o resto do país deve ser tão complicada e escassa? Por que não soar "normal" se somos brasileiros, se estamos fisicamente ligados ao Brasil, se fazemos parte da cultura nacional? Será que estamos fadados a que toda e qualquer expressão nossa soe sempre "folclórica"? Não iremos jamais compartilhar, contribuir regularmente, acrescentar de forma natural e efetiva com o país?

Penso nas queixas que ouvi de gente do Acre e do Mato Grosso a respeito do "gaúcho" que costuma chegar, esgotar a terra e sumir – enquanto mantém belas fazendas no Rio Grande do Sul. Penso nas cobranças dos gaúchos a Elis Regina e na expressão "vendidos", que tantas vezes ouvi ser usada em referência aos artistas que optaram por viver e trabalhar no centro do País – para qualquer brasileiro, vencer no centro do País é motivo de orgulho. Penso que ouvi em Porto Alegre alguém dizer que Lupicínio Rodrigues não era um compositor gaúcho, que ele fazia música brasileira – o fato de ser negro já parecia separá-lo um pouco da cor local.

Penso que os gaúchos devem se aproximar do Brasil. Se acham que são diferentes, tanto melhor! Penso que devem ambicionar – guardadas as proporções – contribuir tão fartamente para a cultura nacional quanto os nordestinos. Não quero dizer com isso que devam trocar a gaita pelo cavaquinho ou pelo berimbau – nem misturá-los acreditando que apenas o fato de estarem juntos já signifique uma fusão ou uma nova linguagem –; não acho que devam adotar o coco gelado no inverno, às margens do Guaíba. Acho, pelo contrário, que a aproximação dos gaúchos com o Brasil se dará no dia em que aproximarem-se de si próprios; no dia em que, refinando a sua linguagem, fizerem valer a completude da sua sensibilidade, deixando para trás um fragmento, uma curiosidade, ou como coisa imprestável, a caricatura redutora sob a qual se acomodaram.

Jorge Luis Borges disse que ao escrever não necessitava "tentar" ser argentino, porque já era. Se "tentasse" soaria artificial. Perfeito. O "tentar" ser é caricatura. Não "tentar" ser gaúcho, nem "tentar" ser brasileiro.

Quando falo em caricatura não estou falando em tradição. Porque a tradição não é jamais um engano. A tradição não deve ser um peso a ser suportado, nem um amontoado de fórmulas estanques a serem repetidas. O artista, para criar algo de valor, para realizar algo que faça sentido dentro do "fazer artístico", deve não apenas acompanhar criticamente a trajetória da sua própria sensibilidade, mas também dirigir seu olho crítico para o contexto em que está inserido e o que o precedeu – o que o levou à sua forma de expressão. Para estar viva, a tradição deve estar justificada na expressão contemporânea – e ela estará justificada mesmo que o novo represente uma ruptura. A expressão contemporânea, por sua vez, para justificar sua existência, deve ser eficaz o suficiente para promover um avanço na trajetória da tradição de que está imbuída, deve ser ela mesma tradição, tradição em movimento, tradição futura.

E penso logo: qual é a minha tradição? A tradição brasileira é minha? É natural que eu atue com ela e a partir dela? Mas tenho diferenças que me distanciam da "comunhão tropical"? Tenho mais forte a tradição de um "país frio", a tradição de um "país deslocado" do Brasil, ao mesmo tempo tão próximo do Uruguai e da Argentina? É natural que eu atue com e a partir dessa tradição "fria"? Sim! Devo fazer valer este sentimento de "dupla personalidade", devo querer o máximo desta "dupla cidadania", fazer dela fonte de criação e não fonte de diluição da minha capacidade criadora. Pensando o "frio" como metáfora amplamente definidora do gaúcho, acho que uma concepção "fria" tem muito o que fazer com uma concepção "quente". Estou pensando em uma "Estética do frio".


A ESTÉTICA DO FRIO

Quando daquela "incômoda sensação de estar no exílio", constatei que a música urbana do Rio Grande do Sul era, além de desconectada do Brasil, absolutamente indefinida, o que me pareceu inadmissível para um lugar com uma sensibilidade tão peculiar e uma produção tão grande. Olhei, evidentemente, para mim mesmo – este território que conheço com mais exatidão – e vi que, morando no centro do País há tanto tempo, aquela indefinição me acompanhava. A indefinição aparecia da seguinte forma: as coisas estavam lado a lado, visíveis, formando um corpo eclético. Não havia uma linguagem que imprimisse unidade a elas. Havia de um lado o dado regional, de outro o brasileiro, de outro o mundial, resultando num ecletismo completamente ineficaz e batido. Mais que isso. Em cada um desses dados havia indefinição, faltava rigor formal. Vi o ecletismo como herança cansada do tropicalismo, sua degeneração como estilo, como postura, em uma ausência do estilo, em um hábito. O que em outro tempo fora a reação natural a um mundo que tendia a se perpetuar em formas estanques, fazia agora – num mundo plural, onde as portas estavam todas abertas – menos sentido que uma linguagem que pusesse unidade na diversidade. E me veio a imagem invernal de um gaúcho solitário tomando seu chimarrão, a olhar a imensidão fria do pampa sob o céu cristalino da manhã. Uma imagem de pura definição! Uma expressiva composição de poucos elementos: a figura imóvel e bem delineada do gaúcho, o céu claro, o verde regular e a linha reta do pampa no horizonte. E me vieram palavras como rigor, precisão, concisão, sutileza. Uma cena regional, quase remota! Curiosa associação. Eu estava vislumbrando naquele pampa a música que eu queria: linguagem altamente definida abrindo um espaço onde a inteligência e a sensibilidade encontrassem um campo radicalmente aberto e irresistível para se expandir. Eu estava vislumbrando uma concepção naquele universo "frio". Uma concepção "fria". Talvez o tempo estivesse me fazendo transformar sentimentos em idéias.

Era urgente ir atrás daquela concepção "fria". Era urgente definir a linguagem. Era urgente, portanto, que eu me debruçasse sobre "meu modo de fazer"; era urgente privilegiar o processo, adquirir confiança nele. Era preciso ganhar um sentido prático. Era dominar a linguagem para poder transcendê-la e chegar à poesia. Porque chegar à poesia é chegar em nossa essência – é não "tentar" ser. Era preciso ter controle sobre o que era passível de ser controlado, para que toda a dimensão incontrolável – a "inspiração", a dimensão secreta e obscura –, toda a dimensão que está além da técnica não fosse desperdiçada. O domínio da técnica é libertador, serve ao que não pode ser dominado. Era preciso refinar a linguagem. E era urgente, antes, uma faxina.

Tomei distância das práticas externas a mim, dos procedimentos institucionalizados, do ecletismo da média, daquilo que se faz meio sem saber por quê. Anotei as coisas ruins em que eu reincidia, as coisas boas que eu deixava de explorar. Joguei fora tudo o que me pareceu normal ou médio. Desci a lupa sobre os extremos: o grotesco e o sutil, o rítmico e o imóvel, o literário e o coloquial, etc. Forcei os limites. Estive na ausência da melodia, no minimalismo harmônico. Saí de letras gigantes, cheguei em letras de duas linhas. Compus músicas de dez minutos e músicas de alguns segundos. Partido em dois, em mim mesmo exercitei os extremos. Separei-me em dois personagens para dividir palco e repertório. Compus para cada um segundo suas necessidades expressivas. Proibi palavras, notas, acordes. Arrumei dificuldades para me obrigar a ir atrás de soluções. Saí da canção para voltar a ela e estar por dentro.

No fim da faxina uma constatação: eu não experimentara a forma da milonga. Não encontrara sentido nisso. Pelo contrário, minha maneira de tratá-la cada vez mais era sutilizar as suas características atrás de uma pureza que seria sua única forma possível. Por quê? Porque a milonga era feita da mesma matéria de que era feita a imagem do gaúcho e do pampa. O sentido que eu vislumbrara na imagem era o sentido de pureza que eu via na milonga. Ou seja: havia uma correspondência direta entre a forma ideal da milonga e as idéias que norteavam a minha busca daquela concepção "fria". E eu podia ir direto à sua essência, sem rodeios. Era simples lidar com ela e o resultado era eficaz. Meu rigor – que eu enxergara na imagem – se acomodava imediatamente à sua forma rigorosa. Em suma, nada do que ela exigia era estranho à concepção "fria". Isso significava que uma concepção "fria" se resumiria à forma da milonga? Não. Significava de que maneira haveria sentido e funcionalidade na concepção "fria". A milonga "funcionava". E se "funcionava" era porque tudo nela – melodia, ritmo, letra, etc. – estava sob controle. Nada pode não ser concebido ou concebido com displicência numa milonga sem que ela perca a sua força, sem que não haja eficácia no seu resultado final. Uma milonga deve ter sua própria concepção. Esta pista me levou de volta à imagem do gaúcho e do pampa. A concepção "fria" que nela eu vislumbrara só seria eficaz se a expressividade que eu captava na cena como um todo eu fosse capaz de captar nos seus detalhes – nos traços do rosto do gaúcho, por exemplo, na luminosidade do seu olho, na profundidade do seu pensamento, na dispersão da sua memória. Era desta forma que a concepção "fria" se afirmara na forma da milonga, a milonga que, da mesma forma que a imagem, se opunha a tudo o que era múltiplo, excessivo. A milonga em tom menor, reflexiva, densa, profunda e melancólica. Rigorosa em sua cadência, seu ponteio, seu fraseado; sutil em seu movimento melódico sinuoso, oriental. E não por isso cerebral: milonga intuitiva, emocional. Se abarcasse uma grande cena, um grande desenrolar temático, seria sempre contida, nunca excessiva. Milonga concebida.

Se eu fosse aquele gaúcho da imagem, absolutamente "definido", a forma da milonga me saciaria. Com ela eu poderia apreender a totalidade do meu universo "frio". Mas não se tratava disso. Eu não era absolutamente "definido", e meu universo era "plural". O mundo que eu queria apreender era múltiplo, excessivo. E para essa tarefa a forma puramente "definida" da milonga não me bastaria. O que me bastaria?

Ter encontrado um sentido de pureza naquela paisagem "fria" e na forma "fria" da milonga, indicava que aquele sentido de pureza já existia em mim. Indicava que eu estava vinculado àquele universo "frio", que eu tinha uma formação "fria" e – partindo do princípio de que toda arte é uma leitura do mundo – que eu tinha uma leitura "fria" do mundo. Eu queria unidade na diversidade? Pois ao tentar apreender a pluralidade do mundo através desta leitura "fria" eu teria unidade na diversidade. É que, para saciar o sentido de pureza que me movia, o único resultado possível seria o que tivesse a expressividade que eu via na paisagem "fria" e na forma "fria" da milonga. O mundo devia ser a minha leitura do mundo, não o contrário. Essa convicção banal era a única coisa que eu precisava para refinar a linguagem e chegar à sua "alta definição". Em termos práticos: assim como a forma da milonga não me bastava, também não era o caso de ficar transpondo mecanicamente para as músicas as características definidoras do universo "frio" – o frio favorece à introspecção Þ a música será introspectiva; o pampa é imenso e regular Þ a música será longa e repetitiva. Talvez só por curtição eu visse um determinismo nessas analogias. Depois da faxina, depois de ter feito aquela devassa no meu universo musical, e ter adquirido uma razoável consciência do que eu parecia fazer melhor e com mais gosto – essa consciência não se adquire muito facilmente –, era hora agora de voltar a este labirinto de informações, à infinidade das minhas referências, às minhas mais antagônicas obsessões e reestruturar tudo a partir da minha ótica "fria" – transformar meu caos em meu cosmos "frio"; buscar o sentido de pureza do "frio" em toda a parte – e fazer com que "funcionasse", fazer com que todos os meus resultados fossem eficazes. Se todos os elementos de uma música têm o poder de significar – melodia, arranjo, ritmo, harmonia, execução, etc. –, era preciso ter controle absoluto sobre cada um desses elementos. Se um deixasse de ser concebido, o efeito de conjunto estaria diluído. A minha marca deveria estar em todas as partes para estar no todo. Antes disso: o ato de compor já teria em vista a concepção final. A música deveria ser sua própria concepção. Concepção "fria".

O que uma boa audição resolveria:

– Música Popular Brasileira.

– Uma estética do rigor.

– Unidade na diversidade.

– O predomínio da canção. Música e letra. Longas canções lineares, pequenas canções de segundos (não vinhetas) e as deliciosas formas comuns tipo AABAB e variantes. Jamais encheção de lingüiça (repetir a letra, solos ou falas gratuitas, etc.). Pequenas, grandes, com refrão, sem refrão: todas as canções igualmente densas, exatas em sua duração. Cada canção impõe sua concepção. Mas há uma concepção para todas as canções.

– A melodia como um raciocínio minucioso e claro. Mas intuitiva. Muita melodia. Cromatismo. A sinuosidade melódica da milonga onipresente, mas sua melancolia aplacada pela leveza da canção brasileira. A repetição. O círculo. Motivos amplos e lineares. Também a eventual ausência da melocia,a tensão da fala: estranhezas preparadas.

– Harmonia aberta. Fluxo regular.Troca sutil de acordes. Também acordes de sétima chamados pelo orientalismo melódico da milonga. A harmonia nascendo e se desenvolvendo junto com a melodia, como um só corpo (onde também estará a letra). Esse corpo é o centro. Mas sem privilégio. O privilégio é para o todo. Talvez a harmonia tenha o papel de amalgamar o todo, de fazer a ponte entre as partes. Mas não sempre. O elemento atonal entrando naturalmente no fluxo, sem configurar um choque.

– O ritmo brasileiro, negro, dançante, tratado com certa dureza (o rigor do tango) e preciosismo planejados. O ritmo como um raciocínio minucioso. Mas intuitivo. O ritmo saído de dentro da harmonia/melodia ou o contrário. Buscando a estranheza: acentuações incomuns (coladas no movimento harmônico/melódico ou em nuances da letra); timbres percussivos incomuns (mas não muita variedade timbrística). O uso do ritmo eletrônico se a intenção for a regularidade e a repetição. A eletrônica vai muito bem com ritmos negros. Eletrônica + complementação com instrumentos tocados por mão humana: se for este o efeito procurado ou se só a eletrônica soar inexpressiva. O ritmo trazendo leveza. Limpeza. Uma analogia? Montanhas e morros do Rio colocados aqui e ali, criteriosamente, na vastidão lisa do pampa.

– Os músicos dentro da concepção. A concepção conta com as peculiaridades dos músicos. O músico livre sozinho e livre com os outros músicos. Conjunto. As bases tendendo à regularidade e à repetição (individualmente e entre si). A "cobertura" trazendo a variedade: sonoridades diversas e incomuns. O acústico. Tudo muito "vivo". Não padronização. Não redundância. Sonoridade preparada, não adotada. A ordem interna da letra e a ordem interna da harmonia e a ordem interna do ritmo refletidas na ordem do arranjo. Minúcias. Limpeza. Teclados eletrônicos só para sonoridades específicas. Solos escritos. Solos que as músicas exigem. Quase tudo já se resolve na estrutura da canção. Contenção. O violão executado dentro da concepção, não aleatoriamente, violão com afinação preparada para explorar a sonoridade das cordas soltas e os efeitos da harmonia aberta.

- As palavras saem da sugestão sonora da melodia. Os sons sem sentido da melodia viram palavras. Antes da letra já estão ali os acentos, as rimas, os tamanhos das palavras. As palavras virão dessa não-letra intuitiva, desses grunhidos espontâneos. A letra, portanto, será inseparável da melodia/harmonia. Um corpo só. Nada poderá ser tirado sem que ela perca a sua força. Exatidão. O tamanho da melodia é o tamanho da letra. Só que a melodia se repete e a letra não. A letra começando no início da melodia e evoluindo sempre diferente (um raciocínio minucioso) até o final. Repetição só no refrão. Mas não sempre. Surgidas de sons ininteligíveis, as palavras irão impor o seu sentido. E serão tratadas racionalmente como um poema. Talvez até "funcionem" ao serem apenas lidas. Mas não são poemas. Pertencem à poesia, mas são letras de música. Descrições minuciosas do cotidiano. A ambigüidade das palavras e o mundo concreto. Não há mensagem. Palavras abertas numa abertura tão vasta que quase nada pode passar por elas. O respeito absoluto à prosódia. O humor trazendo a leveza.


JUNHO

Edgar Poe, the ancient raven et moi.* Penso no refrão de uma milonga minha, onde sobrevôo a cidade de Porto Alegre: "Nunca mais, Nunca mais." O "Nevermore, Nevermore" do pássaro de Poe. Nunca mais havia pensado nisso. Boto na memória, desligo o computador e vou outra vez até a janela. Limpo o vidro, olho para a rua. No fundo, isso tudo é apenas o que meu olho inventa: Satolep. No tabuleiro rigoroso dessas ruas e na arquitetura minuciosa desses prédios a vida contemporânea explode em sua diversidade. Quando a noite chega, mil outras vezes a explosão se espalha em coisas que a cidade sonha. E a neblina desce e se instala. Estética do frio.

Vitor Ramil

Ensaio publicado no livro Nós, os gaúchos, Editora da UFRGS, 1992 - (Lido aqui)


Vitor Ramil (1962) é um músico, cantor, compositor e escritor brasileiro.


Site de Vítor Ramil




segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Dantes é que era bom, quando a arte não era de receber... (Miguel Esteves Cardoso)




Na ponta da língua

Dantes é que era bom, quando a arte não era de receber, mas de convidar 

Li os romances e as biografias escritas por Penelope Fitzgerald e divertiu-me saber que no século XX deixou de ser a obrigação das visitas divertir os anfitriões, virando às avessas os hábitos dos milénios. Desde os anos 50 aos dias de hoje as revistas estão cheias de ideias para os anfitriões divertirem os convidados. Como é que os anfitriões, que oferecem a casa, a comida e a bebida, deixaram que virassem o bico ao prego? Dantes eram os convidados que tinham de sing for their supper. Preparavam de antemão histórias engraçadas e escolhiam bisbilhotices frescas e interessantes para contar. Os anfitriões limitavam-se a assistir aos esforços dos convidados, julgando-os sem piedade. Se fossem chatos nunca mais eram convidados. Graças ao abate de convidados chatos ficava-se com mesas cheias de pessoas espirituosas e outras que, intencionalmente ou não, eram divertidas. Os anfitriões escolhiam o elenco de convidados com cuidado, para haver faísca e só um mínimo de harmonia. Por exemplo, um convidado com opiniões escandalosamente reaccionárias, sempre a indignar-se com o que dizem os outros, fica sempre bem. Hoje é ao contrário: os anfitriões esfalfam-se para divertir os convidados. Cada um, conforme a bolsa, faz o equivalente a convidar Lady GaGa para cantar os parabéns à criancinha. É uma inversão degradante. Hoje são os convidados que chegam, com cara de tédio, exigindo ser entretidos. Desafiam os anfitriões a diverti-los, sendo implícito que já viram tudo e que é muito difícil captar-lhes a atenção. Dantes, os anfitriões eram os únicos que tinham o direito a aborrecer-se. Faz sentido. Estão presos na própria casa, sem possibilidade de fuga ou sítio para fugir, cercados por uma cambada de chatos que ainda vão na sopa. Na mente dos pobres anfitriões estende-se a longa e lenta marcha da noite, de prato em prato e de copo em copo, até poderem ver finalmente as costas daqueles convidados. Nos restaurantes aconteceu a mesma coisa com os cozinheiros e os clientes. Dantes eram os clientes que decidiam o que queriam comer e o cozinheiro cozinhava conforme. Agora são os cozinheiros, chamados chefs, que decidem não só o que vamos comer, como a ordem do que vamos comer e a maneira como havemos de comer cada coisa. Também entre pais e filhos se verificou a mesma inversão de forças: hoje os pais existem para fazer as vontades aos filhos. Se ainda não é bem assim, para lá marcha. A versão contemporânea é "não fazer cerimónia". Os convidados chegam e comem e bebem o que os anfitriões comeriam se estivessem sozinhos. Quando eu era miúdo havia serviços que eram "para as visitas" em que só se mexia quando havia visitas. Era bom para as visitas mas também era um luxo para os anfitriões e para nós, crianças. Nas cartas e nos diários dos ingleses e inglesas do século XX há sempre passagens divertidíssimas em que se descrevem os horrores gastronómicos e vínicos servidos por personagens distintas. Os anfitriões inesquecíveis não são os que serviram os melhores pratos e vinhos mas sim os que eram indiferentes a tais coisas ou forretas ou egoístas. Num mundo sem cerimónias as coisas são mais alegres mas muito menos memoráveis. A cerimónia, aliás, tem muitas vantagens: mantém as distâncias e, quanto mais elevada fôr, mais se presta a hilariantes gaffes, apreciadas por todos. Não é impossível ter saudades de uma coisa que nunca se viveu. Bem que gostaria de ser um anfitrião à antiga, bem sentado, a apreciar as inteligências dos meus convidados. E o que menos gostaria de ser era um dos convidados desses anfitriões. E é com esta aparente contradição que me despeço.

Miguel Esteves Cardoso





sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Receita de Ano Novo (Carlos Drummond de Andrade)

Fotografia de Juliana Goldschmidt



RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Felicidade Interna Bruta (Felipe Araújo)

(*)


FELICIDADE INTERNA BRUTA

O FIB (Felicidade Interna Bruta) é um novo indicador da ONU (Organização das Nações Unidas) criado como uma forma de complementar as medidas já tradicionais, como o PIB (Produto Interno Bruto), para medir o desenvolvimento de uma nação. Ente os quesitos que são analisados pelo FIB estão: bem estar humano, esgotamentos dos recursos da natureza, cuidados familiares e utilização do tempo de forma equilibrada.

Apesar de ter sido incluído recentemente entre os indicadores da Organização das Nações Unidas, o FIB teve suas origens no Butão. Foi criado pelo rei butanês no ano de 1972 como uma forma de indicar o crescimento do país sem considerar apenas o aspecto econômico, mas levando em consideração conceitos culturais, psicológicos, espirituais e ambientais.

A ONU, com o apoio de diversos intelectuais reconhecidos mundialmente, recriou o conceito de FIB para ser aplicado como forma de medir o desenvolvimento de comunidades. Uma equipe elaborou um questionário que examina bem-estar psicológico, acesso à cultura, proteção do meio ambiente, governança, saúde, educação e vitalidade da comunidade.

A Felicidade Interna Bruta (FIB) foi dividida em nove categorias:

Bem-estar psicológico: Mede o otimismo que cada cidadão tem em relação a sua vida. É feita uma análise da autoestima, nível de stress e espiritualidade.

Saúde: Analisa as medidas de saúde implantadas pelo governo, exercícios físicos, nutrição e autoavaliação da saúde.

Uso do tempo: Inclui questões como o tempo que o cidadão perde no trânsito, divisão das horas entre o trabalho, atividades de lazer e educacionais.

Vitalidade comunitária: Entra na questão do relacionamento e das interações entre as comunidades. Analisa a segurança dentro da comunidade, assim como sensação de pertencimento e ações de voluntariado.

Educação: Sonda itens como participação na educação informal e formal, valores educacionais, educação no que se refere ao meio ambiente e competências.

Cultura: Faz uma análise de tradições culturais locais, festejos tradicionais, ações culturais, desenvolvimento de capacidades artísticas e discriminação de raça, cor, ou gênero.

Meio ambiente: Relação entre os cidadãos e os meios naturais como solo, ar e água. Estuda a acessibilidade para áreas verdes, sistemas para coletar o lixo e biodiversidades da comunidade.

Governança: Estuda a maneira da relação entre a população e a mídia, poder judiciário, sistemas de eleições e segurança. Padrão de vida: Análise da renda familiar e individual, seguridade nas finanças, dívidas e qualidade habitacional.

Felipe Araújo


(Fonte: InfoEscola)

Este vídeo não faz parte do artigo de InfoEscola.