segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa."



Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Ás vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la — como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.

Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E esse desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.

Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.

Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.

Clarice Lispector


In A Descoberta do Mundo (1984), reunião das cr{ó|ô}nicas publicadas no Jornal do Brasil, de 1967 a 1973. 


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

"Creio nos anjos que andam pelo mundo..." (Natália Correia)

Mar dos Açores (Fotografía de Zulmira Fontes)



Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de Diamante,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Revista CAIS


Histórico

Fundada em 1994, o primeiro grande projecto da CAIS, foi a criação de uma revista com o nome da Associação, que fosse vendida, na rua, por pessoas sem casa/lar, social e economicamente vulneráveis, em situação de privação, exclusão e risco.

A partir de 2003, a Associação CAIS procurou expandir a sua área de actuação através da criação de um Centro CAIS.

O Centro, além de funcionar como sede da Associação, entende, de forma integrada, apoiar pessoas sem casa/lar e outros grupos excluídos e empobrecidos, na gestão do seu tempo livre. Apresenta-se como um centro de dia polivalente, com uma primeira localização em Lisboa e, posteriormente no Porto.

Educar para a vida activa é a sua preocupação de fundo.



Um instrumento de capacitação para a participação de pessoas em situação de Sem-Abrigo.

Inspirada na revista inglesa, The Big Issue, a Revista CAIS é a primeira criação da Associação, e tem-se revelado uma estratégia sócio/cultural de sucesso, nos processos de acompanhamento psicossocial e profissional dos sem-abrigo, e de outras pessoas em risco. São estes que a vendem, em exclusivo, na rua.

Privilegia as temáticas sociais, culturais e cientificas na selecção e abordagem editorial. O seu principal objectivo é despertar os leitores e a opinião pública em geral, para as problemáticas sociais relacionadas com os sem-abrigo e com outras formas de exclusão.

O preço de capa são 2€ e a receita das vendas reverte para os vendedores (70%).

É distribuída por instituições de cariz social em todo o país, que seleccionam, entre os seus utentes, os vendedores CAIS.

A revista CAIS não é um porto de chegada, mas um ponto de partida, uma resposta de transição para a vida activa.



Clicar para ver os Projetos da CAIS





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Isto trocado por miudos...


Pois, estamos sempre a fazer contas. Todos os dias. Desde os trocados para ver se dá para o café, passando pelos trocados para as filhas levarem para a escola, e as minhas só levam mesmo se tiver de ser, aos trocados na mercearia, etc , etc

E isto trocado por miudos...nem os miudos sobram..nada de nada...chapa batida , chapa lambida e o mais engraçado sem ter graça nenhuma é que eu já oiço esta desde que me conheço como gente...

Raios

Do euromilhões ...nada, sai-me dois euros do bolso , quando há para jogar :(

Mas...e há sempre um mas, eu como sou positiva, recomponho-me (já estava a ficar curvadinha por causa do peso das responsabilidades), ergo a cabeça e penso temos saúde, ainda tenho emprego, recebo a horas e chapa batida, chapa lambida...mas ainda vai chegando!!!!!!!!!!!!!

Beijos e abraços



Lido no blogue anoxpaulox palminha




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Do diário de Sílvia (Érico Veríssimo)



Eu gostaria de compreender melhor as outras pessoas. Seria um modo indireto de me compreender a mim mesma. Gosto de gente. Desejo que os outros gostem de mim. A minha vida não teria sido, toda ela, uma busca de amor? Quando penso nos dias da infância, me vejo uma menininha de pernas finas a caminhar pelas salas do Sobrado atrás de alguém, pedinchando que me aceitassem... Se havia coisa que eu temia era não ser querida. Às vezes me envergonho um pouco dessa atitude canina: o vira-lata em busca dum amo.

Érico Veríssimo

Do seu livro Do diário de Silvia 


(Fonte


Érico Veríssimo (1905-1975) foi um dos escritores brasileiros mais populares do século XX.