sexta-feira, 31 de maio de 2019

Imagens que passais pela retina... (Camilo Pessanha)



Imagens que passais pela retina
dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
por uma fonte para nunca mais!....

Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
- Porque ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?
- O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos...

Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
- Estranha sombra e movimentos vãos.

Camilo Pessanha


Camilo Pessanha (Coimbra, 1867 — Macau, 1926) foi um poeta português.

É considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação.


Fotografia de Pessanha retirada do seguinte artigo do diário Público (15-3-2016):

Macau tira Camilo Pessanha do buraco
Uma nova tradução chinesa da Clepsidra foi lançada no Festival de Literatura de Macau. O escritor Paulo José Miranda, que há 15 anos ali foi atrás de Pessanha, também voltou para o reencontrar.