quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Quem ora soubesse (Luís de Camões)

Camões por Júlio Pomar



Quem ora soubesse
Onde o Amor nasce,
Que o semeasse!

De Amor e seus danos
Me fiz lavrador;
Semeava Amor
E colhia enganos;
Não vi, em meus anos,
Homem que apanhasse
O que semeasse.

Vi terra florida
De lindos abrolhos,
Lindos pera os olhos,
Duros pera a vida;
Mas a rês perdida
Que tal erva pasce
Em forte hora nasce.

Com tanto perdi,
Trabalhava em vão:
Se semeei grão,
Grã dor colhi.
Amor nunca vi
Que muito durasse,
Que não magoasse.

Luís de Camões