sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Eduardo Lourenço, o cidadão preocupado com a perda do espaço privado



Eduardo Lourenço, o cidadão preocupado com a perda do espaço privado

O ensaísta de 92 anos junta, a partir de hoje, o Prémio Vasco Graça Moura-Cidadania Cultural a outros com que tem sido distinguido, como o Prémio Pessoa, em 2008, e o Prémio Camões, em 1995


O filósofo e ensaísta, que confessou, em 2014, nunca ter visitado a Internet, reconheceu "a felicidade nos jovens que encontram nesse espaço visibilidade", mas mostrou-se preocupado com a "transformação do espaço privado em espaço público".

Nascido há 92 anos, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, na Beira Alta, frequentou a escola primária local e matriculou-se, posteriormente, no Colégio Militar, em Lisboa, onde concluiu o curso em 1940.

Inscreveu-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, desistindo para prestar provas, mais tarde, em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da mesma instituição, licenciatura que concluiu em 1946, tendo apresentado uma tese sobre "O Sentido da dialética no idealismo absoluto", publicada mais tarde.

Em 1949, partiu para França, a convite do reitor da Faculdade de Letras da Universidade de Bordéus, com uma bolsa de estágio da Fundação Fulbright.

Em 1953, iniciou uma carreira académica, tendo lecionado em diversas universidades europeias e americanas, designadamente, nas de Hamburgo e Heidelberg, na Alemanha, Montpellier, Grenoble e Nice, em França, e na da Baía, no Brasil, entre outras.

Doze anos mais tarde, em 1965, fixou residência em Vence, na região dos Alpes Marítimos, no sudeste de França, mas manteve sempre ligação ao país de origem, refletindo sobre a sociedade portuguesa.

Professor jubilado da Universidade de Nice, em 1988, recebeu nesse mesmo ano o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, pelo conjunto da obra, e, um ano depois, assumiu o cargo de conselheiro cultural junto da embaixada de Portugal em Roma, onde permaneceu até 1991.

Em 1999, foi nomeado administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian.

Entre condecorações e distinções, recebeu as ordens de Grande Oficial de Santiago e Espada (1981), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1992), a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e Espada (2003) e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (2014).

França distinguiu-o com a Ordem Nacional de Mérito (1996), a Ordem das Artes e das Letras (2000) e a Legião de Honra (2002).

Em 2008 recebeu a medalha de Mérito Cultural do Governo Português e a Ordem de Mérito Civil de Espanha.

Recebeu, entre outros, os prémios PEN Clube (1984), António Sérgio (1992), D. Dinis, Casa de Mateus (1996), Vergílio Ferreira (2001) e Universidade de Lisboa (2012).

Em 2013, a Associação Portuguesa de Críticos Literários atribuiu-lhe o Prémio Jacinto do Prado Coelho, pela obra "Tempo da música. Música do tempo", galardão que já tinha conquistado em 1986, com "Fernando, Rei da nossa Baviera", ensaio pioneiro sobre Fernando Pessoa.

São, aliás, muitas as distinções que têm destacado o percurso de Eduardo Lourenço, no plano intelectual, no académico e no plano de cidadania.

Eduardo Lourenço é doutorado Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro, de Bolonha, de Coimbra e pela Nova de Lisboa.

Sob a égide do Instituto Camões/Universidade de Bolonha, foi criada, em finais de 2007, nesta universidade italiana, a cátedra Eduardo Lourenço, por ocasião do seu doutoramento Honoris Causa, em Literaturas e Filologias Europeias.

O Centro de Estudos Ibéricos, na Guarda, instituiu em 2005, em sua homenagem, o Prémio Eduardo Lourenço, destinado a distinguir personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, da cidadania e da cooperação ibéricas. Em 2015, o galardão foi atribuído à escritora Agustina Bessa-Luís.

A Câmara Municipal de Coimbra, que em 2001 lhe atribuiu a Medalha de Ouro da cidade, inaugurou, em finais de novembro, a Sala Eduardo Lourenço na Casa da Escrita, que recebeu cerca de 3.000 livros do intelectual.

Na ocasião, Eduardo Lourenço referiu-se ao livros como "filhos" e ao facto de se separar deles, como quase ter morrido.

"Estar-se sem livros, é já ter morrido", disse o autor de "O labirinto da saudade", para acrescentar que "a [sua] alma" se encontra "dividida por todos esses livros".

Na sua obra destacam-se ainda títulos como "Heterodoxia I e II", "O Fascismo nunca Existiu", "Nós e a Europa ou as duas razões" ou, entre os mais recentes, "Do colonialismo como nosso impensado" e "Do Brasil, fascínio e miragem".


Publicado no DN - Artes (3 de janeiro de 2016)


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 Página de Eduardo Lourenço