segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Manuel Alberto Valente - (Memória de Luanda)


 
(Memória de Luanda)

Já não posso partir sem me partir
e assim partido daqui permanecer
metade do meu rosto voltado para o norte
voltada para o mar a minha antiga voz.

Já não posso partir e no entanto parto
o copo de cristal onde bebi esta certeza
de me partir partindo   acesa 
embora a outra margem do exílio.

E se me exilo desta margem  desta
aragem  desta ternura bebida em tons
de negro  em sons de amor e noite

é porque sei que um dia voltarei
cantar na liberdade do meu corpo
o corpo livre da noite e deste povo.

Manuel Alberto Valente

(Vila Nova de Gaia1945)


poesia reunida   o pouco que sobrou de quase nada. Quetzal, 2015


(Fotografia de J. Smith in Istanbul - Tenho Saudades de Angola. Huambo, 2010)