Já não posso partir sem me partir
e assim partido daqui permanecer
metade do meu rosto voltado para o norte
voltada para o mar a minha antiga voz.
Já não posso partir e no entanto parto
o copo de cristal onde bebi esta certeza
de me partir partindo acesa
embora a outra margem do exílio.
E se me exilo desta margem desta
aragem desta ternura bebida em tons
de negro em sons de amor e noite
é porque sei que um dia voltarei
cantar na liberdade do meu corpo
o corpo livre da noite e deste povo.
Manuel Alberto Valente
(Vila Nova de Gaia1945)
poesia reunida o pouco que sobrou de quase nada. Quetzal, 2015
(Fotografia de J. Smith in Istanbul - Tenho Saudades de Angola. Huambo, 2010)
