quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Alexandre O'Neill - Soneto (Tempo das cerejeiras agressivas)

 

Fotografia de Jaime Casimiro 

 

SONETO

Tempo das cerejeiras agressivas
A avançar pelo meu quarto dentro.
Velho tempo das noites explosivas
Em que o sangue crescia como o vento!

Tempo –aproximação das coisas vivas,
Do seu hálito doce, violento.
Tempo – horas e horas convertidas
No outro raro e inútil dum lamento…

Tempo como uma ferida no meu lado,
Coração palpitando sobre a lama.
Tempo perdido, sangue derramado,

Resto de amor que se deixou na cama
Horizonte de guerra atravessado
Pelo corpo audaciosos duma chama.

Alexandre O’Neill


No Reino da Dinamarca (1958)