A que buscas em mim, que vive em meio
de nós, e nos unindo nos separa,
não sei bem aonde vai, de onde me veio,
trago-a no sangue assim como uma tara.
Dou-te a carne que sou… mas teu anseio
fora possuí-la – a espiritual, a rara,
essa que tem o olhar ao mundo alheio,
essa que tão somente astros encara.
Por que não sou como as demais mulheres?
Sinto que, me possuindo, em mim preferes
aquela que é o meu íntimo avantesma…
E, ó meu amor, que ciúme dessa estranha,
dessa rival que os dias me acompanha,
para ruína gloriosa de mim mesma!
Gilka Machado
Meu glorioso pecado (1928)
Gilka da Costa de Melo Machado, conhecida como Gilka Machado, (Rio de Janeiro, 12 de março de 1893 - Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1980) foi uma poeta brasileira. Seu trabalho geralmente é classificado como simbolista. Machado ficou conhecida como uma das primeiras mulheres a escrever poesia erótica no Brasil; também foi uma das fundadoras do Partido Republicano Feminino (em 1910), que defendia o direito das mulheres ao voto, atuando no mesmo também como tesoureira.
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(Fotografia: Revista O Malho, nº 1578, de março de 1933. Fonte: Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Digital)