Fotografia de José Marques, Ceifeira alentejana
CANTIGA DO CAMPO
Por que andas tu mal comigo
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas,
Eu choro ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noites claras!
Os que andam na descamisa
Gabam a viola tua,
Que, às vezes, ouço na brisa
Pelos serenos da lua.
E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Àquela casa onde cozes,
Com varanda para o mar.
Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
E andar contigo, ó meu pomo
Exposto às chuvas e aos sois!
E uma noite morrer como
Se morrem os rouxinóis!
Morrer chorando, num choro
Que mais as magoas consola,
Levando só o tesouro
Da nossa triste viola!
Por que andas tu mal comigo?
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Gomes Leal
in Gomes Leal, Claridades do Sul, Braz Pinheiro Editor, Lisboa, 1875.
Por que andas tu mal comigo
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas,
Eu choro ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noites claras!
Os que andam na descamisa
Gabam a viola tua,
Que, às vezes, ouço na brisa
Pelos serenos da lua.
E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Àquela casa onde cozes,
Com varanda para o mar.
Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
E andar contigo, ó meu pomo
Exposto às chuvas e aos sois!
E uma noite morrer como
Se morrem os rouxinóis!
Morrer chorando, num choro
Que mais as magoas consola,
Levando só o tesouro
Da nossa triste viola!
Por que andas tu mal comigo?
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Gomes Leal
in Gomes Leal, Claridades do Sul, Braz Pinheiro Editor, Lisboa, 1875.