Julie Blackmon (1966) - Green Velvet, 2007
PEQUENOS CRIMES ENTRE AMIGOS
Se um dia me pedires,
juro que te empresto
o meu coração, tal como
guardei na boca o pequeno deus
que te trazia tão curioso.
A sério. Deixo-te tocar nele,
sentir-lhe o peso, atirá-lo
contra a parede para depois
o apanhares e retirares a pele
de pêssego demasiado maduro.
Podes até queimá-lo
– com cuidado, por favor –
quando estiver mais frio;
ou enterrares os restos debaixo
das estrelícias, de propósito
por saberes que não as suporto.
Em troca, promete-me apenas
que depois me deixas fugir
para saber como é isso de
passar o resto da vida desembaraçada
finalmente desse peso morto.
Inês Dias
Outro poema de Inês Dias: "Ágata"
Mais dois poemas em Emma Gunst e o blogue de Inês Dias, muito recomendável: Arquivo de cabeceira.
"Inês Dias é uma poeta e tradutora portuguesa. Estreou com Em Caso de Tempestade Este Jardim Será Encerrado (tea for one, 2011), seguido de In Situ (Língua Morta, 2012) e o mais recente Um raio ardente e paredes frias (Averno, 2013). Traduziu, entre outros, António Hernández: O Mundo Inteiro (Língua Morta, 2012). É editora da Averno e da revista telhados de Vidro."
Dados em modo de usar & co. - revista de poesia e outras textualidades conscientes, onde se podem ler mais cinco poemas da autora.
Introdução à economia de perder
Os poemas de Inês Dias fiam-se com a subtileza de um refúgio para a vida
Hugo Pinto Santos, 14 de Novembro de 2014 in ípsilon - Público
Se um dia me pedires,
juro que te empresto
o meu coração, tal como
guardei na boca o pequeno deus
que te trazia tão curioso.
A sério. Deixo-te tocar nele,
sentir-lhe o peso, atirá-lo
contra a parede para depois
o apanhares e retirares a pele
de pêssego demasiado maduro.
Podes até queimá-lo
– com cuidado, por favor –
quando estiver mais frio;
ou enterrares os restos debaixo
das estrelícias, de propósito
por saberes que não as suporto.
Em troca, promete-me apenas
que depois me deixas fugir
para saber como é isso de
passar o resto da vida desembaraçada
finalmente desse peso morto.
Inês Dias
Outro poema de Inês Dias: "Ágata"
Mais dois poemas em Emma Gunst e o blogue de Inês Dias, muito recomendável: Arquivo de cabeceira.
"Inês Dias é uma poeta e tradutora portuguesa. Estreou com Em Caso de Tempestade Este Jardim Será Encerrado (tea for one, 2011), seguido de In Situ (Língua Morta, 2012) e o mais recente Um raio ardente e paredes frias (Averno, 2013). Traduziu, entre outros, António Hernández: O Mundo Inteiro (Língua Morta, 2012). É editora da Averno e da revista telhados de Vidro."
Dados em modo de usar & co. - revista de poesia e outras textualidades conscientes, onde se podem ler mais cinco poemas da autora.
Introdução à economia de perder
Os poemas de Inês Dias fiam-se com a subtileza de um refúgio para a vida
Hugo Pinto Santos, 14 de Novembro de 2014 in ípsilon - Público
Fotografia de Miguel Manso