quarta-feira, 1 de abril de 2020

Joaquim Manuel Magalhães - “Juntamos toros e gravetos...”

O arder do tempo - Américo Meira


Juntamos toros e gravetos
para a lareira. Na mata
flutua o crepúsculo.
Marcos de luz a findar.

Vagas de zimbro, escórias
o arpão do esquecimento.
A súbita melancolia da casa.

As janelas abrem para o rio
e a barra e a ilha com névoa.
Podias ser tu de céu a céu.

A inquieta certeza da poesia
não admite questões. Descobre-se
ao virar da vinha, quando chegamos
ao tanque e não há ninguém.

Joaquim Manuel Magalhães


Uma luz com um toldo vermelho. Editorial Presença, 1990