ODEIO POESIA
Já não gosto de ouvir poesia. Antigamente, fazia sessões cá em casa com o meu amor, quando tive um amor. Agora gosto de a ler em silêncio. Ou mudou a poesia ou mudei eu. Talvez tenhamos mudado ambas.
Fujo de todos os recitais para que me convidam. Lê-se poesia com muita importância, como se a poesia tivesse mesmo muito importância. Para mim a poesia é estar aqui a teclar um texto no computador, meio cega, cheia de pressa porque dentro de 9 minutos tenho de estar no café com C., que me convidou para um projeto que vai mudar o mundo. Não gosto de interpretar poemas para outros, embora até leia bem, digam que leio. Gosto de ler poemas sozinha na minha cabeça.
Também já não aguento poemas muito eloquentes. Houve um tempo para isso. Hoje em dia devemos ser práticos, ir diretos à fruta, arrancá-la, mastigá-la e cuspir o caroço.
Não me venham, portanto, com poemas. Dizem que sou atávica.
Isabela Figueiredo
(Novo Mundo, 3-03-2016)
Já não gosto de ouvir poesia. Antigamente, fazia sessões cá em casa com o meu amor, quando tive um amor. Agora gosto de a ler em silêncio. Ou mudou a poesia ou mudei eu. Talvez tenhamos mudado ambas.
Fujo de todos os recitais para que me convidam. Lê-se poesia com muita importância, como se a poesia tivesse mesmo muito importância. Para mim a poesia é estar aqui a teclar um texto no computador, meio cega, cheia de pressa porque dentro de 9 minutos tenho de estar no café com C., que me convidou para um projeto que vai mudar o mundo. Não gosto de interpretar poemas para outros, embora até leia bem, digam que leio. Gosto de ler poemas sozinha na minha cabeça.
Também já não aguento poemas muito eloquentes. Houve um tempo para isso. Hoje em dia devemos ser práticos, ir diretos à fruta, arrancá-la, mastigá-la e cuspir o caroço.
Não me venham, portanto, com poemas. Dizem que sou atávica.
Isabela Figueiredo
(Novo Mundo, 3-03-2016)