segunda-feira, 18 de julho de 2022

Gonçalves Crespo - Odor di femina

 

ODOR DI FEMINA

Era austero e sisudo; não havia
Frade mais exemplar nesse convento;
No seu cavado rosto macilento
Um poema de lágrimas se lia.

Uma vez que na extensa livraria
Folheava o triste um livro pardacento,
Viram-no desmaiar, cair do assento,
Convulso e torvo sobre a lagea fria.

De que morrera o venerando frade?
Em vão busco as origens da verdade,
Ninguém ma disse, explique-a quem puder.

Conste que um bibliófilo comprara
O livro estranho, e que ao abri-lo achara
Uns dourados cabelos de mulher…

Gonçalves Crespo


António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 1846 — Lisboa, 1883) foi um jurista e poeta português de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo.

(Wikipédia)