Como inútil taça cheia
Que ninguém ergue da mesa
Transborda de dor alheia
Meu coração sem tristeza
Sonhos de mágoa figura
Só para ter que sentir
E assim não tem a amargura
Que se temeu a fingir
Ficção num palco sem tábuas
Vestida de papel seda
Mima uma dança de mágoas
Para que nada suceda.
Fernando Pessoa
19-08-1930
Poesía: 1918-1930, edição Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena
Dine, Lisboa, Assírio & Alvim, 2005