segunda-feira, 21 de março de 2022

Mário de Sá-Carneiro - Aqueloutro

 

André Carrilho

 

AQUELOUTRO

O dúbio mascarado, o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito
O Rei-lua postiço, o falso atónito;
Bem no fundo o covarde rigoroso.

Em vez de Pajem bobo presunçoso.
Sua Ama de neve asco de um vómito.
Seu ânimo cantado como indómito
Um lacaio invertido e pressuroso.

O sem nervos nem ânsia - o papa- açorda,
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal

O corrido, o raimoso, o desleal
O balofo arrotando Império astral
O mago sem condão, o Esfinge Gorda.

Mário de Sá-Carneiro

 

(André Carrilho: Mário de Sá-Carneiro, Illustration for the book "Lisbon Poets", published by Lisbon Poets & Co, 2015)