O poeta Ruy Belo (1933 - 1978)
Duas versões de um mesmo poema de Joaquim Manuel Magalhães: a publicada originalmente em segredos, sebes, aluviões, e a reescrita anos depois, como fez com grande parte da sua obra já publicada. Essas novas versões são consideradas definitivas por Magalhães.
PARA O RUY BELO
1.
Levanto-me para a cruz de claridade da janela.
Vejo afastar-se ao nevoeiro o corpo.
Pelo mais improvável dos caminhos
a natureza responde-me:
dentre os ramos das flores caídas.
A esperança de sobreviver ao inverno que vem
estende-me na areia deste verão mortal.
Uma rajada de cinza bate no crepúsculo
contra os rubros nimbos sobre um lago.
2.
Não sei bem quem morre quando morrem os mortos.
Os guizos dos outros voltados sobre nós
apostam se valemos bastante a despedida.
As supostas mágoas somam dividendos
aos tempos vários e felizes em que permanecemos.
A morte somos nós a calcular a palmo
o choro organizado e o que vamos fingir a seguir.
O nosso punhal sobrevivente dispara
que também somos, que bom, grandes face ao que morreu.
Na putice das letras morre-se sempre a jeito
para a momentânea maior glória dos vivos.
In segredos, sebes, aluviões. Presença, 1981.
PARA O RUY BELO
1.
Levanto-me para a cruz de claridade da janela.
Vejo afastar-se ao nevoeiro o corpo.
Pelos mais improváveis dos caminhos
a natureza responde-me:
dentre os ramos das flores caídas
a ironia da sombra sobre o peito deitado.
A esperança de sobreviver ao inverno que vem
estende-me ao sol de areia deste verão mortal.
Uma asa de cinza corre no crepúsculo
branca e difícil contra os rubros
nimbos abatidos sobre o mar.
2.
Não sei bem quem morre quando morrem os mortos.
Os olhares dos outros voltados sobre nós
apostam se valemos bastante a despedida.
As supostas mágoas somam dividendos
aos tempos vários e felizes em que permanecemos.
A morte somos nós a calcular a palmo
o choro organizado e o que vamos fingir a seguir.
O nosso revólver sobrevivente dispara
que também somos, que bom, grandes face ao que morreu.
Na putice das letras morre-se sempre a jeitoh
para a momentânea maior glória dos vivos.
Texto no blogue O melhor amigo
PARA O RUY BELO
1.
Levanto-me para a cruz de claridade da janela.
Vejo afastar-se ao nevoeiro o corpo.
Pelo mais improvável dos caminhos
a natureza responde-me:
dentre os ramos das flores caídas.
A esperança de sobreviver ao inverno que vem
estende-me na areia deste verão mortal.
Uma rajada de cinza bate no crepúsculo
contra os rubros nimbos sobre um lago.
2.
Não sei bem quem morre quando morrem os mortos.
Os guizos dos outros voltados sobre nós
apostam se valemos bastante a despedida.
As supostas mágoas somam dividendos
aos tempos vários e felizes em que permanecemos.
A morte somos nós a calcular a palmo
o choro organizado e o que vamos fingir a seguir.
O nosso punhal sobrevivente dispara
que também somos, que bom, grandes face ao que morreu.
Na putice das letras morre-se sempre a jeito
para a momentânea maior glória dos vivos.
In segredos, sebes, aluviões. Presença, 1981.
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PARA O RUY BELO
1.
Levanto-me para a cruz de claridade da janela.
Vejo afastar-se ao nevoeiro o corpo.
Pelos mais improváveis dos caminhos
a natureza responde-me:
dentre os ramos das flores caídas
a ironia da sombra sobre o peito deitado.
A esperança de sobreviver ao inverno que vem
estende-me ao sol de areia deste verão mortal.
Uma asa de cinza corre no crepúsculo
branca e difícil contra os rubros
nimbos abatidos sobre o mar.
2.
Não sei bem quem morre quando morrem os mortos.
Os olhares dos outros voltados sobre nós
apostam se valemos bastante a despedida.
As supostas mágoas somam dividendos
aos tempos vários e felizes em que permanecemos.
A morte somos nós a calcular a palmo
o choro organizado e o que vamos fingir a seguir.
O nosso revólver sobrevivente dispara
que também somos, que bom, grandes face ao que morreu.
Na putice das letras morre-se sempre a jeitoh
para a momentânea maior glória dos vivos.
Texto no blogue O melhor amigo