quinta-feira, 25 de abril de 2019

"E nunca mais a guerra e nunca mais..." (Fernando Assis Pacheco)

Fernando Assis Pacheco (1937 - 1995), soldado em Angola,
com o cão Eusébio (1963)


DURANTE AS PRIMEIRAS HORAS DO 25 DE ABRIL

E nunca mais a guerra e nunca mais
e nunca nunca mais e nunca a guerra
e nunca mais e nunca e nunca mais
e nunca nunca nunca nunca a guerra

Fernando Assis Pacheco

Versos enviados para o Fundão pelo autor, a partir da redacção do jornal República, durante as primeiras horas do 25 de Abril de 1974, há, exactamente, 45 anos. Estão publicados na página nove do Jornal do Fundão de 5 de Maio de 1974.

E foram reencontrados graças ao livro de crónicas radiofónicas “Tenho Cinco Minutos para Contar Uma História”, lançado em 2017 pela Edições Tinta-da-China.


Lido em Senderos da Mão Esquerda, do amigo Luís, a quem agradeço. Partilhamos uma grande devoção por Assis Pacheco e lamentamos não o termos podido conhecer.

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Pela minha parte, acrescento um poema de Assis Pacheco, de um livro publicado em 1972: Catalabanza, Quilolo e Volta.


MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO

Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.

Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.

Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.

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Isto acontece em qualquer guerra: ir e não voltar... António da Conceição Lopes da Silva vai para África com 22 anos e um ano depois, morre em combate.


Fonte: Web Lobão da Beira