MARINHA
Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida!
São felizes: têm pena...
Eu sofro sem pena a vida.
Doou-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar...
E sobe até mim, já farto
De improfícuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias.
s. d.
Fernando Pessoa
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). - 1ª publ. in Presença , nº 5. Coimbra: Jun. 1927
(Vapor Villa Franca. Cais de Alcântara, Porto de Lisboa.
Fotógrafo: Horácio Novais)