segunda-feira, 29 de julho de 2024

António Gregório - Café




CAFÉ

Sete adolescentes de mochilas escolares na mesa da esplanada acompanhando um, o único, que abancou para um café. Era o tempo dos primeiros cafés: eu ainda não percebia a pertinência do hábito e temia que isso me prejudicasse a verdade da performance. Primeiro, o pedido (impedir a insegurança de ler qualquer esgar Olha o puto já toma café no empregado); a seguir, os três quartos de açúcar como medida afinadíssima a décadas de dois cafés diários; depois mexer a mistura melindrosa de alheamento e semiconsciência de uma necessidade de vida ou morte à beira de ser satisfeita; e agora aguentar o amargo, o escaldão, o quão longe está tudo do McIdeal. Mas correu-me bem: lembro-me de no fim pensar que Marchava um cigarrinho.

Antonio Gregório


(Publicado há alguns anos no seu blogue Coração Acordeão)




(Fotografía de Amélia Monteiro)