GRÂNDOLA VIRAL
Os protestos dispersos que recebem governantes ao som de Grândola Vila Morena
contêm em si a semente do incontrolável. Já não são organizados com
antecedência, nem por uma estrutura conhecida e previsível. Não. Têm o
poder atómico e viral da Internet, porque se reproduzem em átomos
múltiplos, dispersos e imprevisíveis. De boca em boca, de ecrã em ecrã,
usando apenas o poder da palavra, da rede e da imaginação.
É por isso que o Governo
está tão preocupado. Como se controla uma manifestação assim? Não se
controla. Uma só voz que se levante numa sala cheia tem a capacidade de
criar um coro que cala quem está habituado apenas a ser ouvido. Agora é o
cidadão comum que quer ser ouvido.
Podemos tentar encontrar
razões para estes protestos, mas parece um exercício inútil. Não estamos
todos a viver neste país neste momento? Não sabemos todos o ponto em
que estamos, mesmo que sejam diversas as opiniões sobre as causas e as
consequências?
Como se controlam manifestações avulsas,
espontâneas e desenquadradas politicamente? Não se controlam. Evitam-se.
Não fechando as portas dos palácios, porque elas não serão suficientes
para conter a indignação. Nem evitando os contactos com as pessoas,
porque a sua voz virá sempre pelas ondas hertzianas e electrónicas.
Os
políticos têm agora de aprender a falar uma linguagem de dois sentidos:
falar como quem sente e ouvir como quem aprende. Reconhecer. E terão de
o fazer depressa. Ou ainda vão ter saudades das manifestações em que se
atiravam pedras. Contra essas, bastonada basta.