Bairro de Mafalala em Maputo (Moçambique). Fotografia de O João
FUTURO
Em Moçambique os jovens com menos de 35 anos representam cerca de 78% da população total.
Todos os anos deveriam entrar no mercado de trabalho cerca de 300.000 pessoas, porém o país só tem capacidade para criar 70.000 empregos por ano.
Essa é uma das razões porque a economia informal faz parte do panorama económico nacional, e é um facto que grande parte da população dela depende para a sobrevivência.
Pergunto-me sempre qual poderá ser o futuro de tantos jovens.
Também, pelas mesmas razões, uma grande (enorme) parte da população vive de esquemas, entre eles o roubar tudo o que podem e descaradamente.
É normal empregadas domésticas roubarem comida, detergentes, vasilhame, um dente de alho, uma metade de cebola, um tomate, que com shima e amendoim já faz o jantar lá de casa e a patroa não dá por nada...o grave é quando levam para casa mais do que isso. Não se estranha muito quando o detergente da loiça está mais liquido, sabe-se que uma parte já foi num frasquinho para casa da empregada.
Aprende-se a viver com esta realidade.
Cá em casa temos a sorte de ter uma Felismina - que é pilar da igreja, e anda ali direitinha by the book (no caso, a Bíblia da IUR) e é sempre figura grada a abrilhantar todos os funerais, para o que tem capulana especifica - temos sorte, dizia eu, que ela não rouba essas coisas. E, quando precisa, pede.
Mas já pegou fogo à casa.
Definitivamente, o mundo não é perfeito, e o Maputo pode ser por vezes um lugar estranho, to say the least.
Uma das (rarissimas) pricólogas clinicas moçambicanas queixava-se de que os seus compatriotas não estavam interessados nos seus serviços - o que de facto não me admira nada. Conseguiu uma colocação pelo Ministério da Educação, para dar apoio a jovens com deficiência, que estão integrados no ensino, mas só para inglês ver. O trabalho deixa-a deprimida, pela falta de perspectivas.
Recentemente, um dos alunos surdos do ensino primário disse-lhe (e levou tempo a compreenderem-se) que quando fosse crescido
...queria ser ladrão!
Assim, com toda a naturalidade, já que era uma profissão a que se poderia dedicar, apesar da sua deficiência.
E que outro futuro poderia haver para aquele miúdo?
Sem dúvida, tudo a andar devagar.
Todos os anos deveriam entrar no mercado de trabalho cerca de 300.000 pessoas, porém o país só tem capacidade para criar 70.000 empregos por ano.
Essa é uma das razões porque a economia informal faz parte do panorama económico nacional, e é um facto que grande parte da população dela depende para a sobrevivência.
Pergunto-me sempre qual poderá ser o futuro de tantos jovens.
Também, pelas mesmas razões, uma grande (enorme) parte da população vive de esquemas, entre eles o roubar tudo o que podem e descaradamente.
É normal empregadas domésticas roubarem comida, detergentes, vasilhame, um dente de alho, uma metade de cebola, um tomate, que com shima e amendoim já faz o jantar lá de casa e a patroa não dá por nada...o grave é quando levam para casa mais do que isso. Não se estranha muito quando o detergente da loiça está mais liquido, sabe-se que uma parte já foi num frasquinho para casa da empregada.
Aprende-se a viver com esta realidade.
Cá em casa temos a sorte de ter uma Felismina - que é pilar da igreja, e anda ali direitinha by the book (no caso, a Bíblia da IUR) e é sempre figura grada a abrilhantar todos os funerais, para o que tem capulana especifica - temos sorte, dizia eu, que ela não rouba essas coisas. E, quando precisa, pede.
Mas já pegou fogo à casa.
Definitivamente, o mundo não é perfeito, e o Maputo pode ser por vezes um lugar estranho, to say the least.
Uma das (rarissimas) pricólogas clinicas moçambicanas queixava-se de que os seus compatriotas não estavam interessados nos seus serviços - o que de facto não me admira nada. Conseguiu uma colocação pelo Ministério da Educação, para dar apoio a jovens com deficiência, que estão integrados no ensino, mas só para inglês ver. O trabalho deixa-a deprimida, pela falta de perspectivas.
Recentemente, um dos alunos surdos do ensino primário disse-lhe (e levou tempo a compreenderem-se) que quando fosse crescido
...queria ser ladrão!
Assim, com toda a naturalidade, já que era uma profissão a que se poderia dedicar, apesar da sua deficiência.
E que outro futuro poderia haver para aquele miúdo?
Sem dúvida, tudo a andar devagar.
Publicado no blogue Devagar a 14 de novembro de 2012