O jornalista e escritor portugês Manuel António Pina tinha nascido em 1943. Faleceu na passada sexta-feira no Porto. Foi galardoado em 2011 com o Prémio Camões. No ano 2007 leu os seus versos em Badajoz, na Aula de Poesia Enrique Díez-Canedo. Um reino maravilhoso despede-o enquanto poeta. Havemos de publicar alguma crónica jornalística dele.
ESPLANADA
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.
Carta para Manuel António Pina de Isabel Fonseca Santos