romance de supermercado
Foi no corredor dos detergentes – que cruza o dos laticínios e separa o das bebidas do dos pensos higiénicos – onde se viram pela primeira vez. A loura redondinha e o mestiço de bigode ralo. Um tão inesperado encontro mudaria as vidas destes solitários que passeavam no hipermercado lançando um ar indignado com os preços para simular o engate: quando Elisabete deixa cair o skip e Lauro escorrega no perfumado pó branco. Este acidente fá-lo torcer um pé às mãos dela, e ela, a excêntrica loura com ares de actriz de série z, encosta o redondo peito à cara do acidentado.
Olhos mesquinhamente curiosos rodeiam os apaixonados, enquanto os próprios, estendidos no chão, o mesmo chão onde um patinador desmaiou de cansaço, se acarinham loucamente e fazem chover propostas: casa, na sua ou na minha, curo-lhe o pé com uma ligadura, faço-lhe o jantar, venha, venha.
Lauro levanta-se e pede uma mão, Eli repõe as batatas fritas light na prateleira errada e agarra-o com força, como se esperasse há muito por este homem. Depois avançam contentes e coxos por entre os congelados, saem altivos pela caixa das 15 unidades e nem ligam aos alarmes que tocam frenéticos assinalando o bonito romance.