Clip Voz da RTP - "Eis-me acordado", poema de Al Berto
lido por Paulo Pires.
lido por Paulo Pires.
Eis-me acordado
Com o pouco que me sobejou da juventude nas mãos
Estas fotografias onde cruzei os dias sem me deter
E por detrás de cada máscara desperta
A morte de quem partiu e se mantém vivo...
A luz secou na orla desértica da cidade
Escrevo para sobreviver
Como quem necessita de partilhar um segredo...
Este corpo em que me escondi... gastou-se...
Quantas noites permanecerão intactas no fundo do mar?
O rosto ainda jovem
Foi o tesouro de seivas que me entonteceu
Pelo corpo condeno-me à vida
De susto em susto à inutilidade da escrita...
Mas eis-me acordado
muito tempo depois de mim
Esperando por alguma fulguração do corpo esquecido
À porta do meu próprio inferno...
Al Berto
Com o pouco que me sobejou da juventude nas mãos
Estas fotografias onde cruzei os dias sem me deter
E por detrás de cada máscara desperta
A morte de quem partiu e se mantém vivo...
A luz secou na orla desértica da cidade
Escrevo para sobreviver
Como quem necessita de partilhar um segredo...
Este corpo em que me escondi... gastou-se...
Quantas noites permanecerão intactas no fundo do mar?
O rosto ainda jovem
Foi o tesouro de seivas que me entonteceu
Pelo corpo condeno-me à vida
De susto em susto à inutilidade da escrita...
Mas eis-me acordado
muito tempo depois de mim
Esperando por alguma fulguração do corpo esquecido
À porta do meu próprio inferno...
Al Berto
Al Berto é o pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares (Coimbra, 1948 - 1997), poeta, pintor, editor e animador cultural português.