quarta-feira, 20 de outubro de 2010

...De passarem aves (Jorge de Sena)

Aves no céu de Alter do Chão (Fotografia de PLCA)


...DE PASSAREM AVES

                                                 À memória de Sá de Miranda


Das aves passam as sombras,
um momento, no chão, perto de mim.
No tardo Verão que as trouxe e as demora,
por que beirais não sei
onde se abrigam piando
como ao passar chilreiam.

Um momento só. Rápidas voam!
E a vida em que regressam de outras terras
não é tão rápida: fiquei olhando
as sombras não, mas a memória delas,
das sombras não, mas de passarem aves.

Jorge de Sena



Pedra Filosofal (1950)