segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Não deixem morrer as palavras!" (José Gomes Ferreira)

 José Gomes Ferreira (1900-1985)


- O Senhor já reparou bem num dicionário? Num dicionário qualquer... Tanto faz... Já reparou? Pois a mim faz-me lembrar sabe o quê?

Um jazigo de família, ou melhor, um jazigo da nação. Uma espécie de mausoléu de papel, onde gerações empilharam séculos e séculos de palavras. Algumas já definitivamente mortas, cobertas de bichos, outras quase a morrer... E muitas, apenas adormecidas, à espera de um toque de dedos para regressarem à vida diária... onde utilizamos ao todo quantas palavras vivas - diga-me lá quantas? Quinhentas? Mil? Nem tantas talvez!

Garanto-lhe que (...) quando ouço de manhã até à noite os mesmos termos... as eternas expressões... os substantivos inevitáveis... os adjectivos fatais... e o verbo ser, o verbo haver, e o verbo fazer... sabe o que me apetece? (...) Gritar aos homens: não deixem morrer as palavras! 

 José Gomes Ferreira, escritor, poeta e ficcionista nascido no Porto.

Biografia e obras de Gomes Ferreira em As tormentas e na Wikipédia