AS SANTAS MÍSTICAS
Há mulheres resplandecentes sob o manto
que as esconde. Os seus corpos são brancos como o linho
áspero em que se deitam, e a sua pele é macia
quando o frio da manhã a percorre com as mãos
duras do inverno. Os cabelos negros soltam-se
ao longo das costas, e quando as vemos de frente
são a cortina que lhes esconde os seios. Essas mulheres
sentam-se no banco de pedra junto à vigia
de onde espreitam o mundo. Com os dedos
finos das suas mãos contam os dias que faltam
para o fim da sua eternidade. Quando rezam, de joelhos,
ferem os cotovelos na laje do corredor. Os lábios
murmuram a oração em que pedem a deus
que desça até junto dos seus rostos; e abraçam
a nuvem que se forma quando a humidade
se solta das suas bocas, quando respiram, e o vidro
se embacia para que elas olhem para dentro de si,
e não para fora, onde o céu escurece com as contas
da chuva. E espreito o fundo da sua alma, onde
se abre o caminho do êxtase que as possui.
Nuno Júdice
(Fotografia de NPenguin)
