RONDÓ DE COLOMBINA
De Colombina o infantil borzeguim
Pierrot aperta a chorar de saudade.
O sonho passou. Traz magoado o rim,
Magoada a cabeça exposta à umidade.
Lavou o orvalho o alvaiade e o carmim.
A alva desponta. Dói-lhe a claridade
Nos olhos tristes. Que é dela?… Arlequim
Levou-a! e dobra o desejo à maldade
De Colombina.
O seu desencanto não tem um fim.
Pobre Pierrot! Não lhe queiras assim.
Que são teus amores?… — Ingenuidade
E o gosto de buscar a própria dor.
Ela é de dois?… Pois aceita a metade!
Que essa metade é talvez todo o amor
De Colombina…
Manuel Bandeira
Carnaval (1919)
(Fotografia de Michelle Rolim - Colombina, 2013)