terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Manuel Bandeira - Rondó de Colombina



RONDÓ DE COLOMBINA

De Colombina o infantil borzeguim
Pierrot aperta a chorar de saudade.
O sonho passou. Traz magoado o rim,
Magoada a cabeça exposta à umidade.

Lavou o orvalho o alvaiade e o carmim.
A alva desponta. Dói-lhe a claridade
Nos olhos tristes. Que é dela?… Arlequim
Levou-a! e dobra o desejo à maldade
De Colombina.

O seu desencanto não tem um fim.
Pobre Pierrot! Não lhe queiras assim.
Que são teus amores?… — Ingenuidade
E o gosto de buscar a própria dor.
Ela é de dois?… Pois aceita a metade!
Que essa metade é talvez todo o amor
De Colombina…

Manuel Bandeira


Carnaval (1919)




(Fotografia de Michelle Rolim - Colombina, 2013)