quarta-feira, 9 de junho de 2021

António Osório - Camões

Fotografia de Maurizio Parola

 

CAMÕES

Lia-me Camões meu Pai.
A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.

António Osório