Vamos de mãos dadas. Levam-nos os passos que damos. Neste preciso momento é o suficiente. Os passos levam-nos por entre as ruas estreitas e iluminadas. Ouvimos o coração um do outro, só isso, ou antes, imaginamos o barulho que faz o coração um do outro e é o bastante. E às vezes um pássaro voa baixo sobre as nossas cabeças. Todas as portas estão fechadas. Dorme-se lá dentro. É como se toda a gente tivesse morrido. Há uma saudade nisto tudo que não se sabe de quê. Voltamos para trás, pelo mesmo caminho, refazendo os passos. São só os passos que passam, e isso também é o bastante.
Depois estamos num quarto. Nenhum de nós tem a ousadia de abrir a luz. Temos medo de nós, e esse medo é bom, como um arrepio. A esta hora todos os corpos são demasiado pesados, diz. Eu penso, como sempre, o que não digo. Ela põe um disco e a música enche o quarto.
Pedro Paixão
Depois estamos num quarto. Nenhum de nós tem a ousadia de abrir a luz. Temos medo de nós, e esse medo é bom, como um arrepio. A esta hora todos os corpos são demasiado pesados, diz. Eu penso, como sempre, o que não digo. Ela põe um disco e a música enche o quarto.
Pedro Paixão