Ulisses e Nausicaa, de Jacob Jordaens (1630-1635)
Ulisses a Nausícaa
Não tinha sido fábula a saudade
de estar ao pé de mim sem estar comigo:
vejo-te agora em água, areia, carne,
e és o vulto no sonho pressentido!
Cheiro de rocha a que não chega o mar,
por mais que o mar invente marés vivas...
Reconheço-te, ó palma tão sem par;
és a graça da terra ao céu erguida.
Pisas, ao caminhar, o próprio vento,
que se embuçou no manto de uma duna...
Desfazes sob os pés os grãos do tempo
por do Tempo não teres noção nenhuma...
De que me serve ter vencido sempre,
se aqui me vence a tua juventude?
David Mourão-Ferreira
Não tinha sido fábula a saudade
de estar ao pé de mim sem estar comigo:
vejo-te agora em água, areia, carne,
e és o vulto no sonho pressentido!
Cheiro de rocha a que não chega o mar,
por mais que o mar invente marés vivas...
Reconheço-te, ó palma tão sem par;
és a graça da terra ao céu erguida.
Pisas, ao caminhar, o próprio vento,
que se embuçou no manto de uma duna...
Desfazes sob os pés os grãos do tempo
por do Tempo não teres noção nenhuma...
De que me serve ter vencido sempre,
se aqui me vence a tua juventude?
David Mourão-Ferreira