segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma carta de amor de Fernando Pessoa

Ofélia Queiroz

25 de Setembro de 1929


Exma. Senhora D. Ofélia Queiros:

Um abjecto e miserável indivíduo chamado Fernando Pessoa, meu particular e querido amigo, encarregou-me de comunicar a V. Ex.ª —considerando que o estado mental dele o impede de comunicar qualquer coisa, mesmo a uma ervilha seca (exemplo da obediência e da disciplina) — que V. Ex.ª está proibida de:

(1) pesar poucas gramas,
(2) comer pouco,
(3) não dormir nada,
(4) ter febre,
(5) pensar no indivíduo em questão.

Pela minha parte, e como íntimo e sincero amigo que sou do meliante de cuja comunicação (com sacrifício) me encarrego, aconselho a V. Ex.ª a pegar na imagem mental, que acaso tenha formado do indivíduo cuja citação está estra¬gando este papel razoavelmente branco, e deitar essa imagem mental na pia, por ser materialmente impossível dar esse justo destino à entidade fingidamente humana a quem ele competiria, se houvesse justiça no mundo.

Cumprimenta V. Ex.ª

Alvaro de Campos
eng. naval